sábado, 18 de dezembro de 2010
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
sábado, 16 de outubro de 2010
domingo, 10 de outubro de 2010
sábado, 2 de outubro de 2010
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
sábado, 18 de setembro de 2010
Je t'aime
Te Amo
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
IN ACABADO
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
domingo, 22 de agosto de 2010
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
domingo, 15 de agosto de 2010
sábado, 14 de agosto de 2010
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Ainda no Planalto Central
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
sexta-feira, 30 de julho de 2010
quarta-feira, 28 de julho de 2010
segunda-feira, 26 de julho de 2010
2 poemas
Como seria
De algum vão
Sair, salir em vão
Mas algo prende
Fixo
Arrebatador
Ao chão
Colocado póstumo
Sublime
Discreto perto do canto
Longo no vão
Deslize por quantos torpes vacilos
Queda
Queda
Queda
Queda
Queda
Queda
Queda
Queda
Queda
Queda
Queda
Queda
Desjejum enjoado
Jogando cartas abaixo
Juntos
Jenuíno sem
G
Justo
Apertado
Fadado ao mais recíproco estado
De alerta
Aí
Tá engomado
Dilacerando a úlcera do mundo provocado
Come cenoura
Beterraba
Não vale ácido ou cerveja
Só naturalizado e estrangeiro casado
Mastiga semente
Onde o gado não pisou ainda
Cagado
Estão todos assistindo o filme. MC²
quinta-feira, 22 de julho de 2010
domingo, 18 de julho de 2010
Onde estaria aquela pequena alma com os fundos
olhos vidrados no teto?
O corpinho solto abandonado como se só dos olhos escapasse vida. Fixo, atencioso, girando lentamente o pescoço. Por que motivo a natureza escolhe uma tal diferença que exigi a dependência exclusiva de outro ser?
Havia desesperança no olhar daquela mãe segurando sua criança. Mas a menina boneca... delicada de shortinho, camisetinha, sapatinhos impecáveis, óculos densos, cabelos finos, boca de beijinho, nas mãos um tremular curioso de querer tocar as luzes daquele vagão mesmo sem poder mexê-las como uma criança que descobre o espaço se perguntando como é possível dependurar tantas coisas se o mundo visto de baixo? Do seu tamanho natural de quem é, naturalmente, criança pequena.
O aconchego da mãe era frouxo, deixando a menina mais leve e solta denunciando seu costume com a obediência excessiva da filha. E ela, a criança, menina, daquele colo parecia apenas tentar compreender os altos e seus suspensos ou, simplesmente, almejava a hora em que os anjos celestes a levaria dali com força e vigor para outro lugar em que sua alma pudesse encaixar em um corpo do seu tamanho.
Ali tinha alma demais para o tamanho da matéria. MC²
terça-feira, 6 de julho de 2010
Oco não quero!
sábado, 3 de julho de 2010
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Reloj de plastilina
Una vez pensé que nadie iba a matarme.
El tiempo pasó
entre rayuelas y cometas
entre un amor y bicicletas
y aunque estuviera sólo sabía jugar
aunque quisiera llorar.
Yo te quería amar y no sabía tu nombre
Te quería encontrar pero no sabía dónde
yo te fui a buscar
quería que todo fuera
e fue el amor
llegó el invierno
y anduve tiritando en cualquier lugar
y sólo pude llorar.
Alcanzar lo interminable
rebotando en la pared
dando vueltas en el aire
mientras el payaso hace la red.
Nadie pudo ver que el tiempo era una herida
lástima nacer
y no salir con vida
yo quiero llorar.
Reloj de plastilina
no existes más
ya no te puedo esperar
mientras el payaso hace la red.
Salgo a caminar
y sigo imaginando
fui lo que creí
soy lo que está pasando
No quiero llorar.
No quiero estar envuelto en penas
siempre arrastrando estas cadenas
si el tiempo no es amigo
no importa más
yo sólo quiero jugar.
Jugar, jugar
solo quiero ver jugar
yo solo quiero jugar
solo quiero jugar
Charly García
sexta-feira, 4 de junho de 2010
SATURAÇÃO
Esperar, esperar, palpitar coração de doer ombros e pés , pontadas na cabeça.
Ansiedade, insônia, alguma atitude possível
Enquanto os dias passam os espaços espremem-se , as paredes do 4 x4 fundem-se como em uma caixa compacta sem flexibilidade sem mobilidade. A mente enquadrada não tem animos para sair e se arriscar no covil de feras sedentas por pedra.
Sufoco, respiração pequena, estômago sensível...
É melhor deitar e tentar sonhar. Sonhar com outro lugar, uma casa e um quital, àrea de respiro, cozinha farta e amigos. Música e aconchego.
Quando não é possível mais dividir os espaços com o tamanho dos pensamentos , o que fazer?
Agir e procurar novos espaços... ACHO, ACHEI!!! MC²
sábado, 22 de maio de 2010
Sobre o espetáculo HAMLET dirigido por Juliana Galdino e dramaturgia de Roberto Alvim
Quantas almas sucumbi?
Que a a loucura assassine o teatro sem escorrer nenhuma gota de sangue mas que a vida de outrora insista.
Quanto aos outros.... o que dizer?
Sem dizer
nem meias
nem palavras.
A hora do horror enaltece o belo. É preciso parar de tamponar o fluxo
Permanecer
para digerir o alimento na saliva
Permanecer
Sem corrrer o risco inexistente
No alvo espanto de quem os olhos alcançam. MC²
quinta-feira, 20 de maio de 2010
quarta-feira, 19 de maio de 2010
terça-feira, 11 de maio de 2010
Olhando agora as curvas do meu corpo parecem mais definidas. Ainda vejo seu corpo deslizando sobre elas, se encaixando nos meus quadris e sua língua procurando meu sexo líquido.
É lindo assistir nossa intimidade ser construída!
Na chegada uma tensão. A ansiedade, a desproteção, um querer tão grande. Mas é preciso esperar a bateria. Calma! O frio quer nos embalar pra sentir o sol de outono de Montevidéu. Somente quando a espera necessita para acalmar começamos a viagem.
Parada para matar a fome e a sede. Bocas que mordem cada pedaço com desejo de beijo, peito, coxa, língua, a vontade anima. Um chá meu senhor? Chá que transborda em partilha. Como co-pilota aprendo e você guia a direção com máxima atenção.
Não sei por que tanto me encanta o auto sobre as rodas girantes avançando distâncias em qualquer velocidade. Liberdade fugir para outras paisagens. É ela, a senhora liberdade sedutora, nos atiçando para uma grande aventura.
As curvas, a velocidade, o prazer em chegar onde se deseja. Nos dedos seu gosto, na saliva grossa sílabas de pura poesia. Ali na circunferência da cintura onde os corpos se apóiam, suas mãos... 80,100, 120 quilômetros por hora. Não há pressa. Suspiro.
No Cabo doce melancolia romântica.Pancho e Condor anti-heróis em quadrinhos cheios de histórias pra contar. Um jantar inesquecível, um apertadinho na hora de deitar que faz a diferença no jeito de amar. Lobos marinhos pra nos emocionar, a água para nos curar,
línguas para cambiar, experiências de humanidades tão diversas. A comida que não tem preço.A volta uma fotografia impressionista depois pé na pista.
Cidade!!! Porque mal nos acostumados a não viver sem ela? Família, amigos , sociedade, universidade, praças, ruas, ônibus, táxi, supermercado, a feira. Gente, povo, vida social organizada pela urbs. De que maneira nos tornamos tão “civilizados”?ou infernizados? O peso que a cidade tem em mim, mulher que ama e quer cuidar. Me bastaria agora a servidão, o gozo eterno, desfrutar a rotina como um louvor à Deus.
Mas ainda assim o tempo passa e rápido para quem ama. Principalmente quando há a distância.
Sem chão, sem aconchego, agora quase padeço. Parece um encantamento, estou aprisionada na floresta mágica dos contos de fada. No entanto, a matéria está aqui na cidade “Pedra de Selva” e cruzar a esquina é quase um estupro, aqui não se pode escolher muito a paisagem que se deseja ver, ou talvez, o olhar esteja viciado demais para perceber a beleza desse lugar. Quem sabe ainda o meu silêncio e a minha solidão companheiros insuperáveis dessa semana. Sua falta.
E as curvas do meu corpo... contornando sensações diferentes, alcançando novos espaços um tanto agredidas pelo tempo mas vigorosas na textura presente. Pouso minhas mãos na cintura, uma curva tão intensa e delicada, marcando nossas diferenças. Nela quero sempre sentir sua presença, de preferência me envolvendo nos seus braços quando dorme. Assim vou percorrendo a distância através das curvas, circunferências, arcos, alavancas ...
MC²
quinta-feira, 6 de maio de 2010
terça-feira, 30 de março de 2010
pareciam musculares
a tarde estava febril e a noite também
no domingo fui ao Pronto Socorro
não é possível um diagnóstico 100%
mas tudo indica que fui picada pelo mosquito
Dengue!!!!
Madrugada de domingo para segunda febrão de tremer tudo
Segunda de náuseas pela manhã e a tarde também
a noite fiz uma sopinha de cará, caiu bem
Madrugada controlada pelo despertador do celular. 3 em 3 horas para tomar o antitérmico analgésico
Terça náusea com vômito.Já vomitei 3 x em duas horas
Acho que a próxima parada é tomar um soro no hospital
domingo, 14 de março de 2010
Fugi daquilo que só se pode enxergar com os dois olhos, fui ao mundo incrível do "pensar"TUDO AO MESMO TEMPO. E me disseram que é preciso reencontrar a minha criança que abandonei há muito tempo. Será quantas crianças encontrei o quantas se dispersaram ou quem sabe se esconderam de mim?
Uma lembrança
Uma vez uma amigona pediu que vestisse de palhaço no aniversário de 1 ano da filha. Já estava pulsando ir pra e brincar de artista. Então topei e até fiquei muito feliz com o convite. Ela mesmo conseguiu a roupa e maquiagem.
Na hora combinada me aprontei, exagerei na pasta d'água e saí pela casa para encontrar com o motivo principal da festa; "as crianças". A minha cara de pau, menos naquela época, começou a queimar logo no primeiro encontro. Estava travadassa. Evidentemente a recepção dos pequenos não foi a mais acalorada. E, eu, besta insistente tentava fingir que nada acontecia e quanto mais as crianças estranhavam mais eu carregava nas atitudes e vozes infantis bem idiotizadas caricatas. Uma das crianças, um garoto, que não me lembro o nome exatamente explodiu em lágrimas e medo. Seu choro era a própria tragédia daquela noite. O meu mal estar foi causando suadeira, e provavelmente, em todos os pais que pensaram em confiar suas crianças à um palhaço. O menino gritava a ponto de arranhar a garganta. A frustração tamanha fez eu voltar ao meu lugar que naquele momento que me cabia; "A Amiga da Mãe da Aniversariante". Me desfiz sentindo o fracasso sem poder dividir com ningúem. Voltei para a festa arrasada mas voltei para conferir se as coisas haviam se acalmado.
Passei pelas crianças em pânico de ser notada. Aproximei da mãe do garoto me desculpei mas ela disse que não era para se incomodar e com boas intenções chamou o garoto :
-Filho tá vendo essa aqui? Pois é filhinho era ela o palhaço...
Ela nem terminou a frase e ele começou a esguelar novamente... Saí à francesa, não aguentei.
No ano seguinte minha amiga me convidou novamente para cantar o parabéns para sua filha. Dessa vez sem precisar pagar o mico do palhaço. Como éramos muito próximas, nossas mães muito amigas também aceitei o convite.
Um ano depois, a mesma festa, os mesmos salginhos (aliás, tinha um pão de queijo com pernil que só tinha nas comemorações da sua casa e que eu adorava) e também, as mesmas crianças...Só não tinha percebido isso até o momento em que me encontrei com o garoto do ano anterior. Porque o choro e os gritos também eram os mesmos.
Concluí: Causei um trama nessa criança. Sou responsável pelo que ela será no futuro.
Tudo isso poderia ser o fiasco para que eu desistisse de fazer arte. Talvez seja por isso que hoje sou muito exigente comigo mas ainda bem que a cara de pau continua ainda aí. Talvez menos carregada ou quem sabe tenha confeccionado várias caras de pau para fugir de várias situações... mas com uma sábia diferença. SEM CULPA. MC²
sexta-feira, 12 de março de 2010
quarta-feira, 3 de março de 2010
* * * * *
1.
A pergunta que eu gostaria de inscrever no início deste seminário é: "De quem e de que somos contemporâneos? E, sobretudo, o que significa ser contemporâneos?". (...) De Nietzsche, vem-nos uma indicação inicial, provisória, para orientar nossa busca por uma resposta. (...) Em 1874, Friedrich Nietzsche, um jovem filólogo que havia trabalhado até então em textos gregos e, dois anos antes, havia alcançado uma celebridade imprevista com "A origem da tragédia", publica as "Considerações Intempestivas", com as quais quer acertar contas com o seu tempo, tomar posição com relação ao presente. "Intempestiva é essa consideração", lê-se no começo da segunda Consideração, "porque tenta entender como um mal, um inconveniente e um defeito algo do qual a época justamente se sente orgulhosa, ou seja, sua cultura histórica, porque penso que todos somos devorados pela febre da história e deveríamos, pelo menos, nos dar conta disso".
Nietzsche situa, portanto, sua pretensão de "atualidade", sua "contemporaneidade" com relação ao presente, em uma desconexão e em uma defasagem. Pertence realmente ao seu tempo, é verdadeiramente contemporâneo aquele que não coincide perfeitamente com aquele, nem se adequa a suas pretensões e é, portanto, nesse sentido, inatual. Mas, justamente por isso, a partir desse afastamento e desse anacronismo, é mais capaz do que os outros de perceber e de apreender o seu tempo.
Essa não-coincidência não significa, naturalmente, que seja contemporâneo quem vive em outra era, um nostálgico que se sente mais cômodo na Atenas de Péricles, ou na Paris de Robespierre e do Marquês de Sade do que na cidade e no tempo em que lhe coube viver. Um homem inteligente pode odiar o seu tempo, mas sabe que irrevogavelmente lhe pertence, sabe que não pode fugir de seu tempo.
A contemporaneidade é, pois, uma relação singular com o próprio tempo, que adere a este e, ao mesmo tempo, toma distância dele. Mais exatamente, é "essa relação com o tempo que adere a este, por meio de uma defasagem e de um anacronismo". Os que coincidem de um modo excessivamente absoluto com a época, que concordam perfeitamente com ela, não são contemporâneos, porque, justamente por essa razão, não conseguem vê-la, não podem manter seu olhar fixo nela.
2.
Em 1923, Osip Mandelstam escreveu a poesia "O século" (a palavra russa vek significa também "época"). Ela contém não uma reflexão sobre o século, mas sim sobre a relação entre o poeta e seu tempo, isto é, sobre a contemporaneidade. Não o "século", senão, segundo o primeiro verso, "meu século" (vek moi):
Meu século, minha besta, há alguém que possa
Esquadrinhar em teus olhos
E soldar com seu sangue
As vértebras de dois séculos?
3.
O poeta, que devia pagar sua contemporaneidade com a vida, é quem deve manter o olhar fixo nos olhos de seu século-besta, soldar com seu sangue a coluna quebrada do tempo. O poeta – o contemporâneo – deve manter o olhar fixo em seu tempo. Mas que vê quem vê seu tempo, o sorriso demente de seu século? Gostaria aqui de lhes propor uma segunda definição da contemporaneidade: contemporâneo é aquele que mantém o olhar fixo em seu tempo, para perceber não as suas luzes, mas sim as suas sombras. Todos os tempos são, para quem experimenta sua contemporaneidade, escuros. Contemporâneo é quem sabe ver essa sombra, quem está em condições de escrever umedecendo a pena nas trevas do presente. Mas o que significa "ver a escuridão", "perceber a sombra"?
Uma primeira resposta nos é sugerida pela neurofisiologia da visão. O que acontece quando nos encontramos em um ambiente sem luz, ou quando fechamos os olhos? O que é a sombra que vemos nesse momento? Os neurofisiologistas dizem-nos que a ausência de luz desinibe uma série de células periféricas da retina, chamadas, precisamente, de off-cells, que entram em atividade e produzem essa espécie particular de visão que chamamos de sombra. A sombra não é, portanto, um conceito privativo, a simples ausência de luz, algo como uma não visão, mas sim o resultado da atividade das off-cells, um produto da nossa retina. Isso significa (...) que perceber essa sombra não é uma forma de inércia ou de passividade, mas sim de algo que implica uma atividade e uma habilidade particulares, que, no nosso caso, equivalem a neutralizar as luzes que provêm da época para descobrir sua escuridão, sua sombra especial que não é, de todos os modos, separável dessas luzes.
Pode se chamar de contemporâneo só aquele que não se deixa cegar pelas luzes do século e que é capaz de distinguir nelas a parte da sombra, sua íntima escuridão. Com isso, porém, não respondemos a nossa pergunta. Por que o fato de poder perceber as trevas que provêm da época deveria nos interessar? Por acaso, a sombra não é uma experiência anônima e, por definição, impenetrável, algo que não está dirigido a nós e não pode, portanto, nos incumbir? Pelo contrário, contemporâneo é aquele que percebe a sombra de seu tempo como algo que lhe incumbe e que não cessa de interpelá-lo, algo que, mais do que qualquer luz, se refere direta e singularmente a ele. Quem recebe em pleno rosto o feixe de trevas que provém de seu tempo.
4.
No firmamento que olhamos de noite, as estrelas resplandecem rodeadas por uma espessa penumbra. Tendo-se em conta que há no universo um número infinito de galáxias e de corpos luminosos, a sombra que vemos no céu é algo que, segundo os cientistas, requer uma explicação. Gostaria de falar agora da explicação que a astrofísica contemporânea dá para essa sombra. No universo em expansão, as galáxias mais remotas de afastam de nós a uma velocidade tão grande que sua luz não pode chegar a nós. O que percebemos como a sombra do céu é essa luz que viaja extremamente veloz até nós e, no entanto, não pode nos alcançar, porque as galáxias das quais ela provém se afastam a uma velocidade superior à velocidade da luz. Perceber essa luz que tenta nos alcançar, e não pode, na escuridão do presente: isso significa ser contemporâneo. Daí vem que ser contemporâneos é, antes de tudo, uma questão de coragem: porque significa ser capazes não apenas de manter o olhar fixo na sombra da época, mas também perceber nessa sombra uma luz que, dirigida até nós, se afasta infinitamente de nós. Isto é: chegar pontualmente a um encontro ao qual só é possível faltar.
Por isso, o presente que a contemporaneidade percebe tem as vértebras quebradas. Nosso tempo, o presente, não é só o mais distante: não pode nos alcançar de maneira nenhuma. Ele tem a coluna quebrada, e nos encontramos exatamente no ponto da fratura. Por isso, somos, apesar de tudo, seus contemporâneos. O encontro que está em questão na contemporaneidade não ocorre simplesmente no tempo cronológico: é, no tempo cronológico, algo que urge em seu interior e o transforma. Essa urgência é o intempestivo, o anacronismo que nos permite apreender o nosso tempo na forma de um "muito cedo" que é, também, um "muito tarde", de um "já" que é também um "ainda não". E reconhecer, nas trevas do presente, a luz que, mesmo sem nunca poder nos alcançar, está permanentemente em viagem até nós.
5.
Um bom exemplo dessa experiência especial do tempo que chamamos de contemporaneidade é a moda. O que define a moda é que ela introduz uma descontinuidade no tempo, que o divide segundo sua atualidade ou falta de atualidade, seu estar e seu não estar mais na moda (na moda, e não simplesmente de moda, que alude só às coisas). Apesar de ser sutil, essa divisão é clara: os que devem percebê-la infalivelmente a percebem e, dessa forma, certificam seu estar na moda. Mas se tratar-*mos de objetivá-la e fixá-la no tempo cronológico, ela se revela inapreensível. Sobretudo o "agora" da moda, o instante em que começa a ser, não é identificável por nenhum cronômetro. Esse "agora" é o momento em que o estilista concebe o traço, o matiz que definirá a nova forma das peças? Ou no qual ele a confia ao desenhista e depois à costureira que confecciona o protótipo? Ou, melhor, o momento do desfile, onde a peça é levada pelas únicas pessoas que estão sempre e somente na moda, as manequins, que, no entanto, justamente por isso, nunca o estão realmente? Porque, em última instância, o estar na moda da "forma" ou da "maneira" dependerá do fato de que as pessoas de carne e osso, diferentes das manequins – vítimas sacrificiais de um deus sem rosto – a reconheçam como tal e a convertam em sua vestimenta.
O tempo da moda está, portanto, constitutivamente adiantado a si mesmo e, por isso, também sempre atrasado; sempre tem a forma de um limiar inapreensível entre um "ainda não" e um "já não". É provável que, como sugerem os teólogos, isso dependa do fato de que a moda, pelo menos em nossa cultura, é uma signatura teológica do vestido que deriva da circunstância de que a primeira peça de vestuário foi confeccionada por Adão e Eva depois do pecado original, na forma de um pano entrelaçado com folhas de figueira. (As peças que vestimos derivam não desse pano vegetal, mas das "tunicae pelliceae", dos vestidos feitos com peles de animais que Deus, segundo Gênesis 3, 21, faz com que nossos progenitores vistam, como símbolo tangível do pecado e da morte, no momento em que os expulsa do paraíso). Em todo caso, além da razão, o "agora", o "kairos" da moda é inapreensível: a frase "estou na moda neste instante" é contraditória, porque, no segundo em que o sujeito a pronuncia, ele já está fora de moda.
Por isso, o estar na moda, como a contemporaneidade, comporta certa "soltura", certa defasagem, em que sua atualidade inclui dentro de si uma pequena parte de sua parte de fora, um sabor de démodé. Nesse sentido, dizia-se de uma senhora elegante na Paris do século XIX: "Elle est contemporaine de tout le monde". Mas a temporalidade da moda tem outro caráter, que a assemelha à contemporaneidade. No próprio gesto em que seu presente divide o tempo segundo um "já não" e um "ainda não", ela cria com esses "outros tempos" – certamente com o passado e talvez também com o futuro – uma relação particular. Ela pode, vale dizer, "encontrar" e, dessa maneira, reatualizar qualquer momento do passado (os anos 20, os anos 70, mas também a moda império ou neoclássica). Pode, portanto, colocar em relação o que dividiu inexoravelmente, voltar a chamar, reevocar e revitalizar o que havia declarado como morto.
6.
Essa relação especial com o passado tem outro aspecto. A contemporaneidade se inscreve no presente marcando-o sobretudo como arcaico, e só quem percebe no mais moderno e recente os indícios e as signaturas do arcaico pode ser seu contemporâneo. Arcaico significa: próximo do "arché", ou seja, da origem. Mas a origem não está situada só em um passado cronológico: é contemporâneo ao devir histórico e não cessa de funcionar nele, como o embrião continua atuando nos tecidos do organismo maduro, e o bebê, na vida psíquica do adulto. A distância e, ao mesmo tempo, a proximidade que definem a contemporaneidade têm seu fundamento nessa proximidade com a origem, que em nenhum ponto bate com tanta força como no presente. (...)
Os historiadores da literatura e da arte sabem que, entre o arcaico e o moderno, há um encontro secreto, e não tanto por causa do fato de que as formas mais arcaicas parecem exercer no presente um fascínio particular, mas sim porque a chave do moderno está oculta no imemorial e no pré-histórico. Assim, o mundo antigo, em seu final, se volta, para se reencontar, para as origens: a vanguarda, que se extraviou no tempo, segue o primitivo e o arcaico. Nesse sentido, justamente, pode-se dizer que a via de acesso ao presente tem necessariamente a forma de uma arqueologia. Que não retrocede, porém, a um passado remoto, mas sim ao que, no presente, não podemos viver de nenhuma forma e, ao permanecer no vivido, é incessantemente reabsorvido para a origem, sem nunca poder alcançá-lo. Porque o presente não é outra coisa que a parte de não-vivido em cada vivido, e o que impede o acesso ao presente é justamente a massa do que, por alguma razão (seu caráter traumático, sua proximidade excessiva) não conseguimos viver nele (...).
7.
Os que tentaram pensar a contemporaneidade puderam fazê-lo só às custas de dividi-la em mais tempos, em introduzir no tempo uma des-homogeneidade essencial. Quem pode dizer "meu tempo" divide o tempo, inscreve nele uma divisão e uma descontinudiade: e, no entanto, justamente por meio dessa divisão, essa interpolação do presente na homogeneidade inerte do tempo linear, o contemporâneo instala uma relação especial entre os tempos.
Mesmo que, como vimos, o contemporâneo é que abriu as vértebras de seu tempo (ou percebeu a falha ou o ponto de ruptura), ele faz dessa fratura o lugar de encontro entre os tempos e as gerações. Nada mais exemplar, nesse sentido, do que o gesto de Paulo de Tarso, no ponto em que experimenta e anuncia aos seus irmãos essa contemporaneidade por excelência que é o tempo messiânico, o ser contemporâneo do messias, que ele chama de "tempo de agora" ("ho nyn kairos"). Não só esse tempo é cronologicamente indeterminado (...), mas também tem a capacidade singular de relacionar consigo mesmo cada instante do passado, de fazer de cada momento ou episódio do relato bíblico uma profecia ou uma prefiguração ("typos", figura, é o termo preferido de Paulo) do presente (assim Adão, por meio de quem a humanidade recebeu a morte e o pecado, é o "tipo" ou figura do messias, que traz aos homens a redenção e a vida).
Isso significa que o contemporâneo não é só quem, percebendo a sombra do presente, apreende sua luz invendável. É também quem, dividindo e interpolando o tempo, está em condições de transformá-lo e colocá-lo em relação com os outros tempos, ler nele a história de maneira inédita, "encontrar-se" com ela segundo uma necessidade que não provém absolutamente de seu arbítrio, mas de uma exigência à qual ele não pode deixar de responder. É como se essa luz invisível que é a escuridão do presente projetasse sua sombra sobre o passado, e este, tocado por seu feixe de sombra, adquirisse a capacidade de responder às trevas do agora.
Michel Foucault devia ter algo semelhante em mente quando escrevia que suas indagações históricas sobre o passado são só a sombra projetada por sua interrogação teórica do presente. E Walter Benjamin, quando escrevia que o signo histórico contido nas imagens do passado mostra que estas alcançarão a legibilidade só em um determinado momento de sua história. De nossa capacidade de dar ouvidos a essa exigência e a essa sombra, de ser contemporâneos não só do nosso século e do "agora", mas também de suas figuras no texto e dos documentos do passado, dependerão o êxito ou o fracasso de nosso seminário.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
DIÁRIO VOLÁTIL
Comecei um curso com Thelma Bonavita chamado: "Ferramentas de Criação em Dança Contemporânea". Me perco nas nomeclaturas assim como Ferramentas, Instrução, Procedimento. Mas a intenção de vislumbrar a produção de experiências repetíveis, ou produção de conhecimento mesmo é algo a ser repensado por mim que estou ainda muito mergulhada na criação "em si". Ainda não sei se isto está nos meus planos por agora. Acho que já tô enfrentando um boi... Pensemos `a posteriori.MC²
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
DIÁRIO VOLÁTIL
A verdade é que a TPM sobe a ansiedade e a pessoa aqui nunca foi ansiosa, imagina! A ansiedade fode o ensaio porque gasta o resto do resto de forças que você tem. Mas nadar pra quem tá fazendo um solo chamado "A PISCINA" (pelo menos por enquanto) pode ser uma "FERRAMENTA" interessante para a pesquisa.
Passando a página, hoje tivemos a presença do querido LOOP. Testamos um piloto da trilha que pareceu interessante. Quando estava passando, me vieram algumas qualidades à serem trabalhadas em relação ao peso. De fato, devo me ater mais uma vez às passagens, ao uso do espaço e ao estado de diluição do movimentos.MC²
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
DIÁRIO VOLÁTIL
Esses dias pensando sobre as coisas que estou pesquisando, resolvi, mesmo atrasadamente, exercitar a o tal do diário de trabalho. Acho que pode ser um amadurecimento meu como artista e também um desejo em dividir as coisas que estou aprendendo e até abrir discussões.
Bem, no meio do ano de 2009 me encontrava sem rumo depois de 4 anos de Escola Livre. Esta va um tanto sufocada no trabalho de grupo e grupo grande. Sentia que era necessário encontrar as rédeas sozinhas, precisava dar uma chance a mim mesma para compreender onde iria esse meu modo sui generis de criar. Não digo tão apropriadamente que esse modo seria uma virtude, afinal, muitas vezes me senti muito só, sem ser comprendida e ouvindo um desconfortável: "Lá vem a louca da Cecília outra vez". De fato, começo a compreender que não vim a esse mundo pra ter que agradar ninguém. A maturidade de uma balzaca me faz ser mais segura e acreditar mais naquilo que penso, apesar de sempre ter sido cara de pau. Me acho honrrada de ter estudado na Escola Livre, não tenho dúvidas que me pontencializou a criar. Já no último ano de curso, criei uma performance que me senti muito à vontade. Aliás, a performance já estava dentro de mim. No espetáculo"O Arquiteto e o Imperador da Assíria" acho que veio à tona essa vontade plástica e física. Ouvi uma vez de Mariana Senne: "Cecília você é muito estética"... Okkkk, ok outro dia falamos desse contexto de redescoberta... Chato né? Ficar terapeutizando a internet...
Um dia indo pra casa da Thais Navas em Sto. André eu e Sofia passamos no Carrefour e lá a piscina estava na promoção. Comprei, claro. Em julho de 2009 precisamente no dia 21/07/2009 comecei a criação. Consegui um espaço ao lado do escritório do Satyros e ali durante três vezes por semana das 14 às 17:00 estava eu e a piscina nova. Mas, evidentemente, ouve um movimento anterior. (O trabalho basea-se num conto que escrevi há uns cinco seis anos atrás chamado "A Piscina" o qual tenho ainda a intenção de filmar um curta. E posteriormente, descobri o Bauman que veio a ser o contraponto a partir do seu livro "Amor Líquido"). Então já tinha um caminho, era preciso só começar a fazer sem filosofar demais. Aí comecei. No começo empolgante percebi que a piscina criava várias possibildades e a maioria que me inspiravam eram visuais... Totalmente sem noção por onde começar, muitas vezes, acabei adormencendo dentro do objeto. A verdade é que todo esse processo foi tão genuíno e eu mesma pude descobrir e sentir as necessidades. Em meados de agosto me senti sem forças e sem norte para continuar. Concluí:"Sozinha não consigo, preciso de diretor"
Isadora apareceu quase um mês depois disso... Se passaram 5 meses e estamos juntas querendo colocar o trabalho à vista, não mais à prestação. O processo está aí. Atualmente conseguimos a sala Arquimedes na FUNARTE e estou ensaiando todos os dias de 9 as 14:00. Estou super animada. O trabalho está crescendo e eu também.
A partir dessa retrospectiva importante, que não é tudo , mas aos poucos vou me sentindo à vontade para detalhar, começo a escrever meu DIÁRIO VOLÁTIL. Talvez seja uma maneira de concretizar aquilo que penso ser mas não é. Vou tentar exercitar esse arquivamento do processo que pode ser útil mais tarde, ou de repente, não será porque o que é volátil não deve ser tão importante...
Soo....caminhemos-nus
Hoje dia 22 de fevereiro.
Acordei as 7 da manhã. Ansiosa. Muito ansiosa. Cheguei na Funarte por volta das 9:30. Precisava de chão e respiração. Fiquei uns 7min tetando uma meditação, o olhos quase saltavam das pálpebras. Conter a ansiedade talvez meu maior desafio, inclusive pra vida. Não dá pra estar presente em cena com a cabeça latejando de tantas coisas. Lembrei do Artaud dizendo que no ator o corpo é apoiado pela respiração , ao contrário do atleta, em que é a respiração que se apóia no corpo. Parei pelo menos, tentei sem conseguir. Isadora chegou, me acalmei. Conversamos coisas triviais e pessoais, me distraí um pouco. Voltei forte. Fizemos uma passada, por mais que eu tentasse relaxar e esvair os pensamentos senti a cabeça ainda pesada. Os movimentos não estavam fluindo como é para ser, senti uns trancos e os movimentos meio secos sem acabamento, meio grosseiros. Apesar de tudo não tive pressa e tentei saborear os tempos. Já tenho clareza de cada movimento e segurança em executá-los. Tive que lidar com os improvisos técnicos da piscina que, frequentemente, quebra uma perna ou outra. Tenho que aprender a lidar com eles, no entanto, dependendo podem prejudicar o espetáculo. Ou seja, tenho que conseguir um patrocinador para a piscina
Isadora pontuou exatamente esse truncamento das passagens, me chamando à atenção para a permanência do estado de liquidez, como se a cada passagem um movimento se dissolvesse para se tranformar em outro naturalmente.
Ensaio fechado. MC²
domingo, 21 de fevereiro de 2010
depois fui LÁ pro outro LADO DE LÁ
ACOLÁ voltei
mais uma vez ALI passei
DE LÁ permaneci
POR 2 SEGUNDOS
quando regressei fiquei AQUI
esperando ele vir de Lá
PRA LÁ ainda não fui
tô esperando sair DAQUI de novo
se ele vier PRA CÁ
DAQUI à puco vou levantar
olhar PRA LÁ
e perceber que nunca saí de LÁ
aí vou descarregar
todo o apego que tenho por LÁ. MC²
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
GABRIEL BARRETO
Hoy te busqué
en la rima que duerme
con todas las palabras.
Si algo callé
es porque entendí todo
menos la distancia.
Desordené átomos tuyos
para hacerte aparecer.
Un día más, un día más...
Arriba el sol
abajo el reflejo
de como estalla mi alma.
Ya estás aquí
y el paso que dimos
es causa y es efecto.
Cruza el amor
yo cruzaré los dedos
y
gracias por venir
gracias por venir.
Adorable puente
se ha creado entre los dos.
Cruza el amor
yo cruzaré los dedos
y
gracias por venir
gracias por venir.
Adorable puente.
Cruza el amor
cruza el amor por el puente.
Usa el amor
usa el amor como un puente.