segunda-feira, 4 de junho de 2012

terça-feira, 29 de maio de 2012

Que a LUA me proteja ! 

CONTA GOTAS

Faz tempo que não chove como hoje. A imobiliária não veio consertar  a infiltração. Já posso ver uma gotinha querendo brotar do teto para seguir seu curso parabólico e se dividir em tocs tocs pelo chão. Tá frio.  Cansada.
Caiu ! (observa lentamente) não vai ser a primeira certamente. Estava só esperando o show começar. Desse jeito não durmo hoje. 

Pausa 
A chuva começa engrossar , a casa é velha e tem madeira , o som é forte
Assustada , um tanto paralisada. Aos poucos toma coragem e  olha pela porta.

São coisas da sua cabeça!... Não tem ninguém aqui, só você! 

(medo, encolhendo-se em um canto, tempo)

Porque não tem ninguém? Nunca senti  isso antes. Se ao menos pudesse falar com alguém?

(tenta ligar mas a linhas estão congestionadas, As gotas começam a tomar força dentro  da casa)

Calma , vai passar . Daqui a pouco passa. Eu não entendo . Respira! Respira!
A chuva sempre foi um calmante, adorava dormir e sentir o cheiro de terra molhada. Não entendo o que aconteceu. Já não me encanta mais . E quando no céu se apronta  um temporal não quero voltar pra casa. Poderia ter feito hora extra no trabalho hoje. É como se,de repente, tudo inundasse. Me dá enjôo. Tô enjoada. 

(gotas caem simultaneamente e ela tenta secá-las com um pano)

Maldita imobiliária, isso é maldade. Essa casa deve ter alguma energia estranha, pode ser olho gordo.  Sei lá algum encosto. Vindo daquela bruxa advogada dona da imobiliária eu posso esperar tudo. Ela abusou da minha paciência, me pedindo documentos que quase não existiam para alugar essa casa. Quase adoeci por conta disso, virou uma guerra para ultrapassar os limites. Consegui . Mas agora estou aqui, as  gotas não param de cair . Essa chuva é pra noite toda. Será que aguento. Tá frio.
Vou fingir que não está acontecendo nada. Hoje é um dia muito quente, verão.  As pessoas estão nas ruas, nos botecos se divertindo. Qualquer coisa eu grito! Pronto eu grito.

( Medo vai crescendo e emudece. Dorme)
Acorda mais tarde com o barulho de muitas gotas caindo. Levanta-se desesperada. Traz baldes e panos para impedir o barulho. Começa a enxugar desesperada.
Reza , reza (para Sta. Bárbara) para esquecer seus pensamentos . Lembra de uma canção que sua mãe lhe ensinara. Canta cada vez mais alto para não ouvir seus pensamentos. No seu desespero, acha que está louca e que este é só o começo sem volta. Pensa na morte.

Mas sou tão jovem. Já não sou tão jovem. Ainda falta tempo. O que eu fiz esse tempo todo? Melhor morrer assim do que adoecer e sofrer. Tenho pavor de adoecer. Não, isso não vai acontecer. Melhor dormir de novo e acordar morta. Ninguém vai se lembrar de mim. Ninguém! Quem eu fui ? Ahhh eu me diverti. Mas se eu tivesse tido um filho pelo menos. Dois, talvez, e tivesse amado, agora teria alguém pra cuidar de mim. Eu quero que alguém cuide de mm. Cansei da solidão. Cansei  de ser depósito de um prazer esquecido. Uma fuga. Não quero fugir mais. Onde foi que eu enlouqueci e não percebi? Quem sobrou dessa batalha toda?

(tenta ligar mais uma vez, telefone ocupado)

Atende! Atende! Atente!  Grita!

(está quase toda molhada, o espaço alagado. Há água por todos os cantos compondo quase uma piscina. Olha a água, vê esperança! Esquece o frio, brinca com a água como uma criança)

Sede! (bebe a  água , acalma-se um pouco)
Sede!
Sede!

Surge sua criança, inconsequente, impulsiva. Brinca, brinca , brinca...e esquece.  MC²

domingo, 27 de maio de 2012


O JARDIM DAS DELÍCIAS

Em um tempo improvável e certo havia um mundo onde todos desfrutavam dos prazeres do amor de maneira livre, tudo era harmonioso, natureza e seus habitantes viviam de pura sinestesia, os desejos regiam o mundo de maneira espontânea e natural.  Quando a lua crescia os corpos se satisfaziam por longos períodos até adormecerem juntos comungando uma vida única e coletiva.  Um dia, antes que o sol se aconchegasse em seu quarto escuro, uma pedra foi atirada em um casal que se entregava as carícias mais deliciosas atingindo a cabeça de um deles.  Foi um alvoroço, todos atentaram para o acontecimento, logo em seguida outra pedra, alguém descobrira um enorme prazer em atirar pedras na cabeça dos outros.  Esse prazer foi se propagando rapidamente e, em pouco tempo, os seres desse mundo se tornaram sujeitos ávidos em  explorar o seu ambiente para construir muralhas, armas de guerra, inventar artifícios e tecnologias para  atingir o seu então; objeto de desejo.
                                                                               MC²= maria cecília mansur

CIDADE DO EFÊMERO
Aqui Chronnos está ansioso para devorar seus filhos, não pode esperar um dia sequer. Na cidade do efêmero tudo é instantâneo; suco instantâneo, sopa instantânea, sexo, amor, depilação, casamento, corpo, eleição, dinheiro, tratamento de cabelo, trabalho... Vivemos o delivery do instantâneo.Cidades dos contatos superficiais e frios, as relações se parecem com um sorvete atraente cheio de cores e formas sensuais, no entanto, por  mais delicioso que seja, dissolve rápido, precisa  ser devorado  o quanto antes  se não perde a graça. Quase não há nada sólido neste lugar, tudo é liquido quando não volátil. Nem mesmo se pode pensar em uma ideologia ou no herói, afinal,  jazem no esquecimento de covas emboloradas e invisíveis.  A conta dessa geração já estourou qualquer cartão de crédito. Não há limites para o vazio existencial consumido por essa cidade.  MC²
Fazer arte investigando cientificamente?