sábado, 13 de dezembro de 2014

Leito Líquido

Madrugada, a cama está fervendo.Levanto, ando pela casa, o sono está longe...
Na cozinha, deslizo minhas mãos pelo puxador da geladeira impulsionando a porta. A luz sai e destaca-se no escuro da noite. Abro o congelador, retiro a fôrma de gelo deslocando os cubos sobre a pia, só o calor das mãos é suficiente para fazê-los dançar encima do mármore. Apanho um dos cubos, chupo.Escorrego o gelo pela boca, nuca, seios, barriga, ventre. O gelo derrete suavemente pelo meu corpo tornando-o fluido... Vou roçando os cantos mais pontiagudos do cômodo frio, pesando aos pés da mesa, apoiando os pés nas gavetas do armário. Corro as mãos pela fruteira e encontro uma maçã ainda fresca da feira, sinto o cheiro e abocanho com uma vontade ansiosa de ter que mastigar e sentir a saliva crescida líquida. Percebo as diversas temperaturas, texturas...

O gelo virou água escorrida, virou leito para a consumação do desejo. Meu sexo arde, treme, toco-o com delicadeza. Seguro meus quadris mais alto e vou contraindo os músculos das coxas, virilha...Deixo o ar entrar suavemente por cada poro, relaxando as tensões e, ao mesmo tempo, mantendo meu corpo ardente, latejo. Apóio minhas pernas no tamborete, meus dedos deslizam atráves da umidade, alterno os movimentos segurando forte o clitóris. Massageio toda a região, às vezes fricciono de tal maneira... como se quisesse arrancar-me e te dar como presente confeccionado pelas minhas próprias mãos.

Estou presa num circuito elétrico. Viva!!!!

Suo, suo sua falta. Quero abortar este sexo que te deseja. Quero sangrar-me por você!

Por que não está aqui?

Olha o que fiz... Estou ficando louca. Já não consigo pensar em mais nada. Não trabalho, não como, não descanso, só me maltrato. Me masturbo pensando em você deitado com sua mulher. Sinto seu cheiro impregnado no meu corpo, no travesseiro, na toalha que nunca lavei depois da sua última visita.Estou doente. Você é tudo. É minha desgraça.

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O corpo esfriou. Preciso comer mas a geladeira está vazia.

Volto pra cama, meu espírito está quieto por enquanto. MC²

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Ela chama o menino há anos
O mesmo tom , o mesmo timbre e a mesma intenção .
O menino já não é menino
Rapaz 
Homem
Velho
O tempo na vila não passa.
O passado tomba o coração apaixonado. Estátua.
O balanço está vazio no ar, desenha no espaço circunferência abstrata
Dos meus sumiram sem 
Apontaram distâncias intangíveis 
Embriagaram dos sentidos mais voláteis. 
O corvo que dorme semeia os restos da fome 
Esse fuzil é um abismo de palavras tristes 
Desejo de sol aqui dentro
O mundo em cada poro
Parada
Ainda hoje ...
Parada. MC²






domingo, 21 de setembro de 2014

Invade

Um sol invade me
Quando se quer a morte
É preciso olhar além do horizonte
Para ver o mar

Um mar invade me
Quando se quer chorar
É preciso buscar, fazer partida de algum lugar
Antes da tempestade chegar

Uma tempestade invade me
Quando se quer ficar
É preciso fugir , rezar
Serão histórias pra contar

Dos mais fortes multiplicaram os acovardados. O dia não chega.MC²

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

PAI , aqui estou mais uma vez. Percorri terras , naveguei mares, mergulhei em lagos profundos. Amei o teatro, a dança , a poesia. Dediquei-me como um soldado com a arma em riste. Entreguei  minha alma aos ofícios das artes e mesmo sabendo das pedras não abandonei o caminho. Fui fiel como um cão que faz vigília noite e dia. Pequei por amar sem medidas. O "OUTRO" se tornou um gigante insaciável , cheio de caprichos. Enquanto cuidava, o protegia , ele consumia todas as minha energias. De repente, estava só , o PRÓXIMO  não existia. Senti o vazio absoluto e, assim , a MORTE surgiu como única companhia. Agonizei durante longo período, a dor foi secando gota a gota as memórias e lembranças do que ainda insistia em ser vida. Nos últimos suspiros pensei que se fechasse os olhos descansaria e confortaria os demônios criados pela minha imaginação. Abandonei o meu corpo e por muitos dias sentido algum havia.
As brumas do tempo criaram as cascas das minhas feridas, elas foram cobertas por uma pele nova, diferente, desconhecida. Voltei a caminhar, o chão tinha outra textura, talvez estivesse mais leve. Aqui estou! Ainda encontrando a marcha ideal para meu novo corpo, buscando outras paragens, possibilidades de avançar sem abandonar o caminho. Ilumine meus passos, eu vou seguir PAI , não importa como, sei que estás comigo. Sou tua obra , tua filha. MC²

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

PARA ZÉS

Quantos anos tem aquilo que desconhecemos ?
Quanto tempo leva o vento para soprar as lembranças?
Se o tempo não passa de que morreríamos?
Enquanto esperamos ...buscamos...aquilo que se parecer ser o que não é ?
Com o tempo...
As pernas ficam duras ...
Se tem medo da queda ...
Se tem medo do alto...
Daquilo que guardamos  bem escondido e na ponta dos pés o protegemos.
São como algemas cálices de sangue desejo puro do instante interminável
São filosofias vãs de um mundo superlativo complexo,
Enquanto o ENCONTRO arrebata, sucumbi, transpira cheio de vida.
Uma ode ao insuperável ir e vir de se encontrar e se perder.
Um brinde ao ENCONTRO caprichoso e garantido. MC²

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Dor 
A dor quando chega 
Graceja por cantos bocas orelhas 
Sorri desdentada 
Arrepia os intestinos 
A dor lateja quando quer a morte 
Estilhaça nos céus sonhos ideais
A dor corta camadas 
Desnuda a alma 
Empalidece os olhos escuros 
A dor corrói, pui , inflama qualquer verdade absoluta
O dor ensandece.
Mata.
Cura.
MC²

terça-feira, 22 de abril de 2014

MEU CORPO É UM  INFINITO DE  LÁBIOS BOCAS PEITOS.       MC²
                           
Toda esperança cansada
ouve vozes
Todo coração partido
Muda o sentido
Já não se pode mais acreditar quando o fato é memória
Resto.

As flores murcharam de calor
As flores queimaram  no frio

Alimentar é saber combinar  as diferenças e suas propriedades

Vai longe céu
Cru azul passageiro
Os corvos desceram
Na estrada contas
Contos
Viveiros .
                MC²    

Paris , 24/03/2014    

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O Que Há

O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço..."


 Álvaro de Campos 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

 Em 2013, tive que aceitar a morte daquilo que está vivo, não obstante, o nosso calendário também representa ciclos de morte e vida. De fato, a lógica poderia ser outra mas... aqui estamos celebrando a passagem seja pela morte do passado ou pela expectativa do futuro. As representações sinalizam possíveis caminhos, dentro de nós sempre há um desejo de mudança. Gostaria , agora , de estar não só neste lugar mas em muitos outros ao mesmo tempo. Gostaria de não ser nada, apenas estar presente. Gostaria que minha mente e meu corpo estivessem em perfeita harmonia, sintonizados. Mas o que  me adianta achar que gostaria de algo sem que este exista? O que me adianta a a esperança se me tenho dividida entre o passado e o futuro?
 Ainda estou em 2013  e o tempo não existe . Se há como resolver todos os conflitos há de ser agora. Sem ressentimento, sem expectativas.Eu nunca fui e quiçá serei , eu permaneço sentada nesta cama em silêncio ouvindo o teclar do IPad. Eu insisto  que as palavras sejam tomadas pelas minhas mãos, e assim, meu esforço é presente, meu presente  para mim mesma. Eu me acostumo de novo comigo, eu me acaricio, eu toco meu sexo, eu sinto prazer comigo novamente, celebro a vida.
 Não quero desejar nada a ninguém porque desejo não se deseja se sente, mas espero que a morte encontre a vida ou muitas outras vidas.