Cabeça de Terra
MC²-
Maria Cecília
As
pessoas me pergunta qual meu nome e eu não sei... aliás eu sei sim... às vezes
sou Sabrina, outras vezes minhoca, rosa, ponte, pé... Não gosto de ter um nome
só não... prefiro ser o que eu quiser, conforme abre o dia já sei o que eu
quero ser...Outro dia a mulher queria comprar comida pra mim, aí veio conversar
querendo saber meu nome... ela tomou um susto porque naquele dia eu me chamava
morte...ela foi embora correndo...
Também não tenho casa não, prefiro as paradas.
Eu vou parando...mas nunca paro de andar... gosto de sai pela estrada, chegar
numa parada... aí primeiro experimento a terra, se ela for boa fico uns tempo.
O mais curioso é que num tem terra igual, cada uma é de um jeito, tem umas que
são mais doce, outras mais salgada, tem umas colorida...Primeiro eu sinto na
cabeça, ponho a terra na cabeça que é pra sentir suas vibrações, depois provo
um pedaço...às vezes faço até um cigarrinho... Já aconteceu de prova a terra
quando to indo embora e a terra tá diferente...quando isso acontece fico
curiosa pra saber o que eles tão colocando nela...
A coisa que eu mais gosto de fazer é ver o
sol escondendo atrás dos morro. Quando chega no final da tarde, gosto de parar,
fica quietinha só olhando pro céu... dá uns barato muito louco, muito melhor
que uns chás que a gente toma aí no meio do mato...Teve uma vez que achei que o
sol tava dentro de mim...achei que ia derreter, começou a saí água do meu corpo
todo... das costas, dos pé, dos olhos, achei que eu nunca mais ia para de
escorrer.... Menino o negócio era bom demais... fiquei um tempão parada só
escorrendo, depois parece que alguém tinha atiçado fogo em mim... saia pulando
que nem um cabrito, rindo que nem bobo...tudo que olhava ria e tudo que via
parecia que tava dentro de mim, eu era um tanto de coisa ao mesmo
tempo...doidera doida demais...
Não gosto de ter medo, uma vez eu tive
muito medo....tava na estrada de bobeira fazendo uma curva cumprida e bem
fechada... um cachorro me resolve atravessar a estrada bem no meio da
curva...aí veio um desses caminhão grande, sabe? É esses bichão grande que a
roda é do tamanho da gente... aí o caminhão veio lenhado passou encima do
cachorro e o cachorro explodiu, voou pedaço pra tudo conte lado... sabe bola de
sabão quando estoura, quando ce vê num existe mais....não aguentei chegar perto... fui embora... mas fiquei com
tanto medo que o espírito do bichinho viesse me perturba que acabei voltado lá,
num tinha mais nada, mas ainda encontrei uns ossos num cascalho lá.... enterrei
o bichinho, rezei e até cantei um hino:
“Vai com Deus bichinho, vai com Deus
bichinho, vai com deus....em paz e com
os anjinhos”.
Eu sou a rainha do sofá, já encontrei
tanto sofá legal na rua, o último que achei era vermelho e grande, dava até pra
ter uma coleção de sofá. As pessoas podiam adotar os sofás, eles devem se
sentir muito abandonado...um dia
ainda vou fazer um prédio de sofá, tem
tanta gente que quer ter uma parada só sua...Esse povo que gosta de faze a rua
de parada acaba bebendo demais, tão tudo podre de tanta cachaça é gente que
pensa pouco ou já pensou demais aí fica tudo lelé...num são bom da cabeça
porque fica parado, num anda nem um tequinho...acho que querem tudo ser
estrela, fica aí na rua, um dia vem alguém aí grava os cara, e os cara vira
artista, passa na televisão. Eu gosto de vê televisão, às vezes tem numas parada na beira da estrada...quando
é assim fico vendo um tempão. Vi uma vez um menino loirinho, era um príncipe
que cuidava de uma rosa, depois encontrava com a raposa... ele vivia num mundo
diferente...depois que vi esse filme comecei a prestar mais atenção onde eu
piso vai que to pisando numa flor...Eu gosto das novela também, só acho que tem
muita gente ruim, né?
O povo das novela é muito
invejoso, brigam por qualquer coisinha, se eu um dia encontrar com eles vou
falar pra eles não ser tão assim ruim...
Eu sou boa roubo pouco, mato
menos.
(...)
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