quinta-feira, 21 de outubro de 2010

" Perderam o sentido da realidade, a noção do tempo, o ritmo dos hábitos cotidianos. Voltaram a fechar portas e janelas para não se atrasarem nos trâmites de se desnudar, e andavam pela casa do jeito que Remédios, a Bela, sempre quis andar, e se espojavam nus em pelos nos lameiros do pátio, e uma tarde estiveram a ponto de se afogar quando se amavam na tina. Em pouco tempo fizeram mais estragos que as formigas-ruivas:destroçaram os móveis da sala, rasgaram com suas loucuras a rede que havia resistido aos tristes amores de acampamento do coronel Aureliano Buendía e estriparam os colchões e os esvaziaram no chão para sufocar-se em tempestade de algodão. Embora Aureliano fosse um amante tão feroz quanto a seu rival, era Amaranta Úrsula quem comandava com seu engenho disparatado e sua voracidade lírica aquela paixão de desastres, como se tivesse concentrado no amor a indômita energia que a tataravó consagrara à fabricação de animaizinhos de caramelo. Afora isso, enquanto ela cantava de prazer e morria de rir de suas próprias invenções, Aureliano ia se fazendo mais absorto e calado, porque sua paixão era ensimesmadamente e calcinante. Os dois chegara, a tais extremos de virtuosismo, que quando se esgotavam na exaltação tiravam partido do cansaço. Entregaram-se a idolatria de seus corpos ao descobrir que os tédios do amor tinham possibilidades inexploradas , muito mais ricas que as do desejo. Enquanto ele esfregava com claras de ovos os seios etéreis de Amaranta Úrsula, ou suavizava como gordura de coco suas coxas elásticas e seu ventre apessegado, ela brincava de boneca com a portentosa criatura de Aureliano, e pintava olhos de palhaço como carmis de lábios e bigodes de turco com o lápis de pintar sombramcelhas, e punha gravatinhas de organdi e chapeuzinhos de papel prateados. Uma noite se lambuzaram da cabeça aos pés com pêssego em calda, se lamberam feito cães e se amaram como loucos no chão da varanda, e foram despertados por uma torrente de formigas carnívoras que se dispunham a devorá-los vivos.
Gabriel García Marquez- Cem Anos de Solidão

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