terça-feira, 26 de maio de 2009

SOU PAULISTA DE JEITO E MINEIRA DE CHEIRO.MC²

sábado, 23 de maio de 2009

CRÍTICA SOBRE O NEKROPOLIS- BETA NUNES

“Nekrópolis”
Beta Nunes
“A obra de arte é sempre comovente e desagradável, ao mesmo tempo”. Partindo desse pressuposto, pode-se considerar o espetáculo “Nekrópolis”, com texto de Roberto Alvim e direção de Gustavo Kurlat, uma obra de arte. Por quê?
Porque ao tratar da realidade do país de forma tão próxima dos fatos, ao colocar a lente tão perto do nosso dia-a-dia, a peça, apresentada por jovens formandos da Escola Livre de Santo André, mostra-nos uma imagem que, apesar de verdadeira, caracteriza-se por ser desagradável, feia e grotesca. É desagradável ouvir desses jovens - que deveriam estar sonhando -, que o projeto democrático do país faliu, que o mundo desejado por nós resultou em violência, miséria, medo. É feio ver em imagens tanto técnica quanto esteticamente bem elaboradas, compostas por meninos e meninas em idade de estar dançando e celebrando a vida, que nossas crianças estão sendo cotidianamente adormecidas, nossos adolescentes sistematicamente assassinados e nossos velhos peremptoriamente entristecidos. É grotesco perceber que estamos desorientados, perdemos a identidade e não aprendemos com a História. E tudo isso dito por aqueles que deveriam estar vivendo num mundo melhor, criado pelos mais velhos, para eles. Não temos futuro – parece-nos afirmar “Nekropólis” –, pois aniquilamos o presente e ignoramos o passado.
Apesar da pretensão de se estabelecer uma estética contemporânea, que tem como cracterísticas principais a desconfiguração das estruturas dramáticas e a desconstrução do discurso, a forma escolhida para nos mostrar tanta desolação é bastante simples. Um musical intermediado pelo julgamento de supostos terroristas garante uma apresentação linear, com curvas de tensão, quebrada pelas músicas compostas pelos atores. Tais peças musicais, muito bem executas, são, porém, longas demais, prejudicando um pouco o ritmo do espetáculo. Mesmo a inclusão de uma linguagem estranha, como se fosse um idioma de seres de outro planeta, a qual no início chega a desnortear o público, é facilmente decodificada depois de um tempo, o que acaba por amenizar o impacto pretendido.
O espetáculo é feito por jovens, e isso fica claro em vários aspectos: na voz que às vezes vacila, na criação de cenas ilustrativas do texto, na energia que utilizam para mostrar o quanto são contestadores, no texto que retrata uma realidade cruel, mas que, no fundo, possui um certo tom de ingenuidade e frescor.
A imaturidade revelada no espetáculo “Nekropólis” não o desvaloriza em nada; muito pelo contrário, é o que emociona. É comovente ver o esforço desses jovens em ter uma postura política assumida. É alentador vê-los chafurdar na História e colocar de forma estética os seus pontos de vistas. É belo ver que temos uma geração a qual, apesar de tudo, ainda acredita.

CRÍTICA SOBRE O NEKROPOLIS- ANTONIO DURAN

Espetáculo: nekropolis. Turma F-10 da E.L.T.
Dramaturgia: Roberto Alvim. Direção: Gustavo Kurlat
por Antonio Duran
A peça musical Nekrópolis, com os formandos-aprendizes da turma F-10 da Escola Livre de Teatro de Santo André, denuncia, de modo contundente, as conseqüências da atitude ausente do Estado para com grande parte da população que vive “à margem” da sociedade. E a contundência está no modo como esse problema é tratado, ao revelar também a contradição existente entre as notícias da realidade, divulgada pelos meios de comunicação, e a realidade de fato, vivenciada pelas pessoas que moram fora das zonas centrais. Ou seja, consegue expor um problema social à luz de outro.
A peça enfoca a trajetória de um grupo organizado que se autodenomina “Estirpe”. Seus membros violam e desenterram cadáveres em decomposição e os expõem em locais estratégicos da cidade (parques públicos, estacionamento de Shopping Center etc). Esses casos atraem a mídia, que por sua vez chama a atenção das autoridades, provocando a captura dos componentes do grupo. Assim, um julgamento se estabelece e coloca em discussão se as ações do grupo devem ser tomadas como delito político ou criminal.
A encenação abre um eficaz diálogo com o texto ao incluir o espectador na posição de júri. Ao iniciar o espetáculo os atores se levantam da platéia e levam consigo as cadeiras para o palco deixando, assim, um espaço livre entre o público, que servirá à representação. Essa operação desestabiliza a ilusão da quarta parede, ao abrir a comunicação dos atores diretamente, e muito próxima, aos espectadores, incluindo-os no julgamento.
O sério trabalho desenvolvido pela E.L.T. fica evidente nessa montagem, em que atores mostram dominar corpo e voz, criando coletivamente, e pensando seu ofício à luz da crítica social. E é justamente esta crítica o ponto mais forte de Nekropolis. Consegue desvelar o funcionamento da realidade social, especificamente, sua lógica espetacular.
Para além de expor a polêmica de que, se o crime de violar e expor cadáveres em praça pública justificaria a atitude de abandono do Estado para com a população mais carente, o grupo Estirpe se utiliza da “fome” pelo espetacular, que a mídia tem, para transformar a exposição dos corpos em decomposição num evento. E assim, poder chamar a atenção das autoridades e da população para a sua própria negligência. Nekropolis oferece um amargo dilema: se o alimento da lógica espetacular é a necessidade da visibilidade, então, para que algum assunto relevante da vida social se torne alvo de discussão, e possível solução, será necessário alimentar a lógica espetacular com seu próprio veneno? E desse modo, fazer com que ela regurgite menos ilusão (espetáculo) e um pouco mais de realidade?
E, se assim for, como não deixar que esses próprios procedimentos se tornem banais? Pois, se a lógica espetacular funciona como uma “droga”, que seda a sensibilidade e faz com que sejam necessárias doses cada vez maiores de choque para poder repercutir, qual será o limite desses eventos extraordinários que sensibilizarão a sociedade para um debate?
Se Nekropolis ousou criar a trama para tratar de um tema relevante, e ao mesmo tempo delicado, pois a denuncia da injustiça social facilmente pode cair num tom agressivo e planfetário, sobra a vontade de avistar maior experimentação na linguagem. Embora haja coerência, tanto na interpretação, como nas coreografias e iluminação, a encenação buscou enfatizar restritamente o caráter austero do tema: com olhares intensos e diretos para os olhos da platéia; gestuais enérgicos e precisos; e iluminação direta, marcadamente frontal nos atores, como se fossem holofotes. Um dos momentos em que o registro sisudo poderia ser dispensado é quando aparecem alguns brinquedos no palco e bonecas sobre as cadeiras, em uma tentativa de simbolizar crianças mortas, mas que serviram mais à ilustração do que a significação. Os objetos apareceram no palco como brinquedos velhos, e não conseguiram estabelecer um diálogo com a vida das crianças que seriam suas donas.
O vigor de Nekropolis vem de sua capacidade de provocar o pensamento em várias direções. O próprio nome traz em si a idéia contraditória de combinar o termo “polis”, que se refere a cidade, que por sua vez seria formada por cidadãos, com o termo “nekro”, que alude a morte. Seria uma cidade formada por cidadãos sem voz, isto é, mortos? Literalmente ou metaforicamente mortos? Fica mais uma questão que Nekropolis consegue tocar. Inclusive na reflexão sobre quais premissas se partir para se fazer uma crítica social.

CRÍTICA SOBRE O NEKROPOLIS - ROGÉRIO GRUARAPIRAN

Crítica Nekrópolis
por Rogério Guarapiran

Necrópole é a antiga cidade dos mortos, campos de sepulturas que fundaram os grandes centros de civilização da antiguidade. O afastamento histórico do convívio mais orgânico com nossos mortos enfraqueceu a consciência de memória cultural remota e nossa capacidade de resistir prontamente ao julgo arbitrário e autoritário de formações cristalizadas.
O eixo central da criação colaborativa entre aprendizes e mestres da F10 da ELT com a peça “Nekrópolis” toma como centro das discussões um possível “ato extremado”, de intervenção política, como busca estética de contestação aos poderes estabelecidos. Trabalho musical de ficção crítica que coloca em processo a reflexão sobre as contradições sócio-políticas da história do Brasil recente e pratica a exumação de algumas mazelas de nossos vínculos imediatos de solidariedade e justiça social.
No início há uma dificuldade de compreender qual língua está sendo falada, não se entende a lógica do discurso e algumas palavras se destacam cruamente. Essa desorientação é um gesto - no primeiro momento incompreensível - para estabelecer o jogo de códigos e atitudes de um grupo terrorista denominado “estirpe”, que dá seu manifesto propositadamente confuso. No segundo momento inicia-se um julgamento - novo gesto que agora funda o fio da narrativa - que se desenrolará por toda a peça, entrecortado por músicas e flashs de cenas que contextualizam o processo. Nessa dinâmica o público é colocado como júri , integra a relação e é constantemente intimidado e solicitado a refletir meio ao embate ideológico dirigido pelos advogados de acusação e defesa. As músicas têm função de interrupções do fluxo dramático: comentam, antecipam, contradizem e pontuam momentos críticos; são encenadas com uma coreografia que tenta formalizar essa multifunção. A descontinuidade da narrativa exige uma versatilidade na configuração espacial, e para tanto utiliza-se palco e platéia com recursos econômicos de cenário: quase tudo são cadeiras que compõe o espaço. Os blackouts também contribuem para os cortes e mudanças de planos.
A montagem compreende várias camadas dramatúrgicas: o texto, enredo (destino do grupo terrorista dentro do julgamento), música, coreografia, etc; revelam conflitos latentes de correspondências entre as atitudes e intenções de cada elemento. A esquemática dominante da instauração do julgamento traz uma série de limitações formais em contradição com o primeiro gesto de desatinar a linguagem, porque o tribunal comporta-se num jogo antagônico e elementar de juiz, júri e opinião pública que aparecem de forma idealizadas. A atriz-juiz se dirige ao público-júri numa mistura de inquérito, averiguação e argüição, em uma tentativa de síntese investigativa que sufoca as tentativas mais intempestivas de construções na fala. As propostas de embate ideológico direto entre pares antagônicos dos advogados, representantes do poder legal e os terroristas abrem um campo muito fecundo para o debate de idéias, embora não consiga avançar para uma discussão mais aprofundada.
A direção musical atinge o adensamento de uma expressão de contestação que as letras compostas pelos atores reclamam, conseguindo uníssono muito claro das vozes em coro. Porém, essa harmonização e as melodias encontram um limite contraditório desfavorável em relação à linguagem truncada e desarticulada que pretendia atender aos terroristas. Os motivos melódicos, facilmente assimiláveis em termos de encadeamento da idéia musical, não correspondem à tentativa de desarticular a lógica do discurso que inicialmente foi sugerido. A coreografia, ao tentar desarticular os gestos, provoca uma sensação de caos organizado, e assim é mais coerente com a intenção estética. Mas há momentos em que não é difícil reconhecer algumas movimentações mal acomodadas e o abarrotamento de expressões para compensar um encaixe forçado das músicas com os cortes da narrativa central do tribunal.
Atuação é o foco de um trabalho de formação de atores de uma escola e na ELT a integração do ator em todas as etapas e áreas da criação teatral ressalta uma atitude muito consciente sobre temas que tendem a deslocar a atenção mais para fora do que para dentro do palco. Em “Nekrópolis” a autonomia está em relação oportuna e conflituosa com a forma de trabalho coletivo que resultou em fundar a autonomia de elementos cênicos que se manifestam estanques e amarrados por um truque de força que é o tribunal instaurado.

CRÍTICA SOBRE O NEKROPOLIS- ELAINE FRERE

Nekrópolis, uma produção dos alunos da Escola Livre de Teatro de Santo André.
Por Elaine Frere

A história da Escola Livre de Teatro é de montagens com temas densos, fato que, talvez, esteja ligado ao histórico dos idealizadores da escola: profissionais atuantes, competentes e habituados às lutas políticas da classe artística.
Já a Cidade de Santo André é um lugar com vistas para a cultura, intelectualizada e com seus excêntricos artistas a transitarem por toda parte em seus diferentes tipos e personalidades.
Com tanto “engajamento e liberdade”, pois que o nome já anuncia: “Escola Livre”, não é raro que as montagens tragam questões do coletivo para a cena, que façam criticas sociais e que optem por chocar a platéia.

Nekrópolis leva ao palco acontecimentos monstruosos e cotidianos, velhos conhecidos de todos nós, desastres da personalidade humana. Na trama, uma suposta facção criminosa chama a atenção para os crimes sociais, cometendo outros, tão ou mais chocantes. Logo, todo o teatro se transforma num tribunal, do qual o público faz parte, obrigatoriamente, e passa a participar de um julgamento que deve considerar, se o grupo agiu movido politicamente ou se foram crimes comuns. Neste âmbito muitas questões e reflexões sócio culturais são abordadas, como, por exemplo, a violência dos jogos eletrônicos, oferecidos aos filhos por seus próprios pais que, contraditoriamente, se perguntam por que seus filhos teriam se tornado tão violentos.

Diante do labirinto que Nekrópolis apresenta, bem se coloca a insistente pergunta de Gilberto Gil na canção Domingo no Parque, que narra um crime passional cuja condenação é certa:
- E agora, José?
- E agora, José?
- E agora, José?
Se a condenação é certa, um fato consumado, de que vale falar dela?

A citação também serve de paródia às palavras quebradas e repetidas do texto (possível ensaio do absurdo que se perde rapidamente), aos black outs freqüentes, ao movimento corporal repetitivo da dança contemporânea em cena, ou mesmo a sensação de “dèjá vú” do tema, que está na TV, nos jornais, na rádio, nas ruas e no Teatro.

Parecendo querer reafirmar o tom sombrio da trama, como se houvesse essa necessidade, os figurinos são na cor cinza, o palco é neutro, e a luz é, quase sempre, branca. Neste contexto, a cena da mulher que ao ser baleada na cabeça sofre delírios para, então, morrer, trabalhada como um rito de passagem, é quase um oásis poético e imagético, em meio ao tom cinzento da peça. Um oásis que se esvazia, no esforço final de uma morte naturalista em cena.

Fica a certeza de que há, por traz desses aprendizes, uma preocupação da escola, em formar profissionais pensantes, conscientes e preocupados com a função social da Arte, embora a obra, ora analisada, pareça um pouco ultrapassada quanto ao que se propõe a denunciar, posto que nenhuma novidade se apresenta, nem quanto ao tema, nem quanto a forma. Mas é certo que há, no espaço da Escola Livre, um prenúncio e o exercício das várias técnicas e recursos necessários ao “bom fazer teatral”.
.
"UM BEIJO COM GOSTO DE QUEIJO BRIE NA MAIS AMIGA DAS AMIGAS. LILI TE AMO DEMAIS E TÔ TE ESPERANDO ANSIOSAMENTE AQUI NO BRASIL, NA PEDRA DE SELVA". MC²

quarta-feira, 20 de maio de 2009

AMOR SEM MEDIDAS

Distraída, cheguei na estação do metrô, para variar, correndo e atrasada. Quando, de repente, me vi atrás de uma mulher muito grande com aproximadamente 2 metros de altura, loira, forte. Aquela figura era tão atraente que quase não dei conta que andava de mãos dadas com um rapaz de estatura mediana, evidentemente, muito mais baixo que ela. Flagrei que eram noivos. Desacelerei, entrei na fila do bilhete único e foi inevitável não observar aquele casal tão exótico, se é que posso chamar assim. Eles encostaram-se à parede ao lado da catraca. A super mulher atendeu o telefone enquanto o namorado abraçado em volta da sua cintura com a cabeça pendida sobre o seu seio aguardava carinhosamente e afagando-lhe a lombar. A moça desligou o celular atravessou os braços pelas suas costas, envolvendo-lhe quase que completamente assim como uma criança que é pega no colo para dar-lhe o peito e proteção. Tomando-lhe o queixo, começou a beijá-lo com celinhos estalados. O moço com o pescoço arqueado, apenas retribuía os beijinhos estático como uma maneira de adaptarem seus corpos para o obstáculo causado pela descompensação da altura, uma estratégia, aparentemente, já conhecida por eles. A moça ainda com a mão no seu queixo lhe recomendava algo, do tipo: "Não se esqueça de recolher a roupa limpa no varal". Ele apenas com um movimento assertivo com a cabeça, consentia obedientemente. A mulher então, pra finalizar, beijou-lhe a testa se afastando em direção a catraca. Passou o bilhete, seguiu. Ele permaneceu observando sua caminhada. Ela sumiu e ele num respiro, abaixou a cabeça, virou-se em movimento às suas atividades daquele dia.
Eu pude assistir o desenlace do encontro. Bonito. Recarreguei meu bilhete pensei nas diferenças que se encontram quando o amor acontece. Invejei as diferenças e me senti comum.