quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
antro por
por antes
daquilo que se imagina
ser homem
ou viver como homem
nínguém diga
se a sílaba
já virou antropofagia
porque quando a vírgula
Gabriel diz:
Até criança aparece na( ) muito bom as cores do
Maria Cecilia diz:
e a lingua
encontra a expessura da saliva
Pausa
Desejo contido
Gabriel diz:
É poeta?
Maria Cecília diz:
Apenas gosto da sonoridade das palavras
Deslizando pela goela a dentro das células,
e na volta ressonando pântanos, lodos entumecidos, vincos atraentes de bocas quentes distantes
Gabriel diz:
Como a antropologia?
Maria Cecília diz:
Como antro de algum lugar em si mesmo.MC²
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Zygmunt Bauman
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Quero é guerrear!!!
Mas se me cortarem a cabeça
Restam :
2 pernas, 1 bacia, 1troco, 2 petinhos , 20 dedos e tantas cavidades e víceras.
O que vou fazer com isso?
Pisar descalço no chão pra sentir a "vibração" sem conexação com o cosmos, né? porque já não tem mais a cabeça como pico de transição
Masturbar até sair sangue nos dedos pra dar um down na ansiedade
Tricotar? Será?
Não, já terei perdido os dedos através da masturbação
Será que eu vou respirar melhor depois de perder a cabeça... e quem perde a cabeça pensa na respiração? Imagina... quem perde a cabeça, enlouquece...
Mas peraí, enlouquecer mais? Não tá bom por hoje? MC²
domingo, 18 de outubro de 2009
Caçador de Mim
Milton Nascimento
Composição: Luís Carlos Sá e Sérgio MagrãoPor tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim
Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim
Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim
sábado, 26 de setembro de 2009
domingo, 20 de setembro de 2009
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
Manuel Bandeira
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Atabalhoada de nervos pancos
OPACOS
DILA CERA DOS
Teatros vivos, claros
impenetráveis mulatos
BERRO disfarce
constante pavoroso espetáculo
Avenidas e muros uivantes
caramelizados, instantâneos
de pedra
PÓ
pulverizados
mutantes de ciclos assolados ensismesmados em carros filmados
CÉU da cidade de plástico
noite esfumegante brisa ácida etílica
CHURRASCO DE GATO na esquina COM FARINHA
queima CARNE CONGELADA
de um verão penetrante salgado na pele
Pés latejam
Pintura Tarsila
Nos trilhos ao lado da marginal
Tietê. MC²
sábado, 12 de setembro de 2009
Mitos e heróis reforçam a fé que brotando de nós colhe no vento inspirações, desejos e rumos de um arqueiro-viajante que precisa mirar e atirar pra descobrir o próximo alvo, poderia ser também um arqueiro verdejante, atirador das coisas naturais dessa vida que insistimos tanto boicotar com nossas razões empororocadas de uma lama fétida de podres poderes...Insistir na ingenuidade, na criança me parece virtuoso, perigoso porque estar criança desencouraçado parece ser. Quantas vidas já vivi desde que cheguei aqui e quantas deixei de existir? Se o tempo falasse de onde estaria poderia procurar de onde vim, mas estar é tão melhor que prefiro levar...assistir a loucura criando raízes mais invisíveis, no entanto, profundas. Do que fala o artista a não ser da loucura que o afeta? Quando poder olhar de perto essa loucura de cada um e poder jogá-la como bastão sem se importar com o tempo, os espaços, deixar se contaminar e se entregar... Não acredito em arte sem LOUCURA. MC²
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
SOCORRO PARA ELT
ameaça o projeto político pedagógico original da escola reconhecida e
respeitada nacional e internacionalmente, podendo inclusive comprometer
definitivamente a continuidade do Projeto que vem sendo construído ao longo
de 19 anos.
Na Tarde desta terça-feira, dia 08/09/2009, foi comunicado a Edgar Castro,
então coordenador pedagógico, o seu desligamento do quadro de Funcionários
da ELT, pelo Diretor de Cultura, Sr. Pedro Botaro. Fato este que só faz
reafirmar a grave situação que ameaça a continuidade do projeto original,
visto todos os atos anteriores, que nos vem sendo apresentados como
tentativas de dissolver a força artística representada por este coletivo.
Assim sendo, convocamos todos para o ato que ocorrerá na próxima
sexta-feira, dia 11/09/2009, com concentração que se iniciará às 14 horas na
porta da referida escola, que tem como objetivo a entrega de uma
carta-manifesto ao Secretário de Cultura Sr. Edson Salvo Melo, em uma marcha
que se estenderá até o Paço Municipal
Escola Livre de Teatro
Praça Rui Barbosa, s/ nº
Bairro Santa Terezinha
Santo André - SP
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
sementes plantada em terra de angustia, aonde kualker coisa nasce mais morre rapido como um ser codenado a morte..
os musgos nogento q nos persegue q tenta tampa nossa boca
q horror
isso é e sempre será akilo e akeles q vai sempre tenta impedir vc de viver
mas nossa vc tem sim a força dos cloros da vida,
tem um brilho unico de um ser q superou e sempre vai superar muito
kuando lodo e mofo vinhé te atormentar
ande se movimenta vá por mais q angustia steja no pescoço
viva sinta se vivo sinta se q algo diferente vc tem q fazer
vc é diferencial para mundo
meu querido Mr. Julio
domingo, 16 de agosto de 2009
sexta-feira, 10 de julho de 2009
de Hilda Hilst
É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida.
É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.
Como-a no livor da língua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.
E perambulamos de coturno pela rua
Rubras, góticas, altas de corpo e copos.
A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d'água, bebida. A Vida é líquida.
(Alcoólicas - I)
* * *
Também são cruas e duras as palavras e as caras
Antes de nos sentarmos à mesa, tu e eu, Vida
Diante do coruscante ouro da bebida. Aos poucos
Vão se fazendo remansos, lentilhas d'água, diamantes
Sobre os insultos do passado e do agora. Aos poucos
Somos duas senhoras, encharcadas de riso, rosadas
De um amora, um que entrevi no teu hálito, amigo
Quando me permitiste o paraíso. O sinistro das horas
Vai se fazendo tempo de conquista. Langor e sofrimento
Vão se fazendo olvido. Depois deitadas, a morte
É um rei que nos visita e nos cobre de mirra.
Sussurras: ah, a vida é líquida.
(Alcoólicas - II)
* * *
E bebendo, Vida, recusamos o sólido
O nodoso, a friez-armadilha
De algum rosto sóbrio, certa voz
Que se amplia, certo olhar que condena
O nosso olhar gasoso: então, bebendo?
E respondemos lassas lérias letícias
O lusco das lagartixas, o lustrino
Das quilhas, barcas, gaivotas, drenos
E afasta-se de nós o sólido de fechado cenho.
Rejubilam-se nossas coronárias. Rejubilo-me
Na noite navegada, e rio, rio, e remendo
Meu casaco rosso tecido de açucena.
Se dedutiva e líquida, a Vida é plena.
(Alcoólicas - IV)
* * *
Te amo, Vida, líquida esteira onde me deito
Romã baba alcaçuz, teu trançado rosado
Salpicado de negro, de doçuras e iras.
Te amo, Líquida, descendo escorrida
Pela víscera, e assim esquecendo
Fomes
País
O riso solto
A dentadura etérea
Bola
Miséria.
Bebendo, Vida, invento casa, comida
E um Mais que se agiganta, um Mais
Conquistando um fulcro potente na garganta
Um látego, uma chama, um canto. Amo-me.
Embriagada. Interdita. Ama-me. Sou menos
Quando não sou líquida.
(Alcoólicas - V)
domingo, 5 de julho de 2009
sexta-feira, 26 de junho de 2009
domingo, 21 de junho de 2009
AO ASFALTO DA CARNE
RECOLHENDO O MORTO DOS SENTIDOS PRENHOS CRIATIVOS
CARNE ROTA ASFALTADA
SONHOS DE VONTADES NÃO PARIDAS
E DO GRITO QUE SE QUER VOMITAR
PRA SUSPIRO AFAGAR
CARNE SANGUE ENTREGUE AOS ABUTRES FEDORENTOS
ESTANCADORES DE BEXIGAS
AMORES DA NOITE
SURPRESAS PREVISÍVEIS
AMORES DO DIA INALCANÇÁVEIS FILOSOFIAS
COMIDAS COM REFINAMENTO DE BURGUESIA
CARNE CRUA
CARNE SUA
SUADA CARNE
MELANCOLIA
TROUXERAM CAMISINHA? MC²
terça-feira, 16 de junho de 2009
João Guimarães Rosa
CA LA CILDA
Cac ilda
Ca ciana
Inflama
Vento da boca
Parida de um grito mudo
cuspido na marmita
de nego branco
Cadê ela?
maldita da cidade
em trapos de barbaridade
assumida diaba
embucetada perdida na noite fria gemia
Ca la
safada encardida
dada autonomia
comprou carta de auforria
da pia saiu com saia voadora
num rabo de arraia
sumia...
cade la mulher aparecida?
em altar de padroeira
Morreu. MC²
domingo, 7 de junho de 2009
UM DIA , UMA VIDA
Atropelando os sentidos pra encontrar a prosódia perfeita
Num mundo aturdido de sentidos próprios expropriados pela humanidade subserviente dos dotes mercantis, mercantilizados, merdiculotizados, enguiçados em oficinas rotativas prestadoras e fornecedoras de seus ISOS etcrizados. Uma epidemia, um cancro, cancerizando a vida que existe, fagocitando até as beiras sem eiras de nossos recantos silvestres. UM HOMEM QUE PROCURA A CURA ESTÁ CORRENDO.
A CULPA pela morte da vida?
De que tamanho é a responsabilidade que consigo assumir?
Enquanto algumas bicicletas querendo voar por aí, me invejam e ao mesmo tempo reprimem sentimentos tão sublimes de querência e aconchego, pois o desejo está nos olhos do outro uma vez que sou porque permanentemente estou, estou.com.br. De todas as regras a que mais aprendi foi me livrar delas me aprisionando em minhas querelas e murmúrios de alguns mundos pessoas que conheci. Nunca fui boa de etiqueta mesmo, mas se a verdade dos seus olhos brilha, abro minha guarda e também me ofereço como guia. Não importa a distância, posso passar dias com o reflexo de sua pupila nas minhas retinas sem piscar pra não me tornar presa fácil dos banidos desse paraíso. Sou fã da experiência. Sem dúvidas, a melhor pedagogia. No entanto, pra ela não se tem metodologia, só vire a curva pra ver o que aparece na esquina, ou então arrisque cara ou coroa pra esperar a chuva. A chuva que virá desses tempos de melancolia, de previsões catastróficas sobre o planeta ou, se não, a chuva chamando o rito pra lavar a tristeza na fonte depois do alívio da descida arriscada no profundo de nós mesmos. A chuva virá em cascata, garoa, tempestade mas virá pra cumprir seu ciclo escorrendo,alimentando a vida, quiçá a destruindo.
Eu quero me transformar em água pra deslizar suave pelo seu corpo, ressecado e sugado pelas estradas, trilhas e amontoados de gentes que passaram ou que estão vindo, quero ser só uma gotinha dançando e penetrando seus poros, chegando até às suas glândulas, artérias, vísceras, venículas, hidratando sua pele, seus pelos, sua boca , sua antropofagia.Sem sofrer metabolismos vou escolher um cantinho pra repousar, ali quero ficar até que a chuva lave dissolvendo no plasma de cada célula filigranas desse sentimento que me acomete neste instante.
E assim, mesmo estando em lugares diferentes vou encontrar com a morte sem CULPA e sem correrias pois já não sou do tamanho da minha responsabilidade. MC²
terça-feira, 26 de maio de 2009
sábado, 23 de maio de 2009
CRÍTICA SOBRE O NEKROPOLIS- BETA NUNES
Beta Nunes
“A obra de arte é sempre comovente e desagradável, ao mesmo tempo”. Partindo desse pressuposto, pode-se considerar o espetáculo “Nekrópolis”, com texto de Roberto Alvim e direção de Gustavo Kurlat, uma obra de arte. Por quê?
Porque ao tratar da realidade do país de forma tão próxima dos fatos, ao colocar a lente tão perto do nosso dia-a-dia, a peça, apresentada por jovens formandos da Escola Livre de Santo André, mostra-nos uma imagem que, apesar de verdadeira, caracteriza-se por ser desagradável, feia e grotesca. É desagradável ouvir desses jovens - que deveriam estar sonhando -, que o projeto democrático do país faliu, que o mundo desejado por nós resultou em violência, miséria, medo. É feio ver em imagens tanto técnica quanto esteticamente bem elaboradas, compostas por meninos e meninas em idade de estar dançando e celebrando a vida, que nossas crianças estão sendo cotidianamente adormecidas, nossos adolescentes sistematicamente assassinados e nossos velhos peremptoriamente entristecidos. É grotesco perceber que estamos desorientados, perdemos a identidade e não aprendemos com a História. E tudo isso dito por aqueles que deveriam estar vivendo num mundo melhor, criado pelos mais velhos, para eles. Não temos futuro – parece-nos afirmar “Nekropólis” –, pois aniquilamos o presente e ignoramos o passado.
Apesar da pretensão de se estabelecer uma estética contemporânea, que tem como cracterísticas principais a desconfiguração das estruturas dramáticas e a desconstrução do discurso, a forma escolhida para nos mostrar tanta desolação é bastante simples. Um musical intermediado pelo julgamento de supostos terroristas garante uma apresentação linear, com curvas de tensão, quebrada pelas músicas compostas pelos atores. Tais peças musicais, muito bem executas, são, porém, longas demais, prejudicando um pouco o ritmo do espetáculo. Mesmo a inclusão de uma linguagem estranha, como se fosse um idioma de seres de outro planeta, a qual no início chega a desnortear o público, é facilmente decodificada depois de um tempo, o que acaba por amenizar o impacto pretendido.
O espetáculo é feito por jovens, e isso fica claro em vários aspectos: na voz que às vezes vacila, na criação de cenas ilustrativas do texto, na energia que utilizam para mostrar o quanto são contestadores, no texto que retrata uma realidade cruel, mas que, no fundo, possui um certo tom de ingenuidade e frescor.
A imaturidade revelada no espetáculo “Nekropólis” não o desvaloriza em nada; muito pelo contrário, é o que emociona. É comovente ver o esforço desses jovens em ter uma postura política assumida. É alentador vê-los chafurdar na História e colocar de forma estética os seus pontos de vistas. É belo ver que temos uma geração a qual, apesar de tudo, ainda acredita.
CRÍTICA SOBRE O NEKROPOLIS- ANTONIO DURAN
Dramaturgia: Roberto Alvim. Direção: Gustavo Kurlat
por Antonio Duran
A peça musical Nekrópolis, com os formandos-aprendizes da turma F-10 da Escola Livre de Teatro de Santo André, denuncia, de modo contundente, as conseqüências da atitude ausente do Estado para com grande parte da população que vive “à margem” da sociedade. E a contundência está no modo como esse problema é tratado, ao revelar também a contradição existente entre as notícias da realidade, divulgada pelos meios de comunicação, e a realidade de fato, vivenciada pelas pessoas que moram fora das zonas centrais. Ou seja, consegue expor um problema social à luz de outro.
A peça enfoca a trajetória de um grupo organizado que se autodenomina “Estirpe”. Seus membros violam e desenterram cadáveres em decomposição e os expõem em locais estratégicos da cidade (parques públicos, estacionamento de Shopping Center etc). Esses casos atraem a mídia, que por sua vez chama a atenção das autoridades, provocando a captura dos componentes do grupo. Assim, um julgamento se estabelece e coloca em discussão se as ações do grupo devem ser tomadas como delito político ou criminal.
A encenação abre um eficaz diálogo com o texto ao incluir o espectador na posição de júri. Ao iniciar o espetáculo os atores se levantam da platéia e levam consigo as cadeiras para o palco deixando, assim, um espaço livre entre o público, que servirá à representação. Essa operação desestabiliza a ilusão da quarta parede, ao abrir a comunicação dos atores diretamente, e muito próxima, aos espectadores, incluindo-os no julgamento.
O sério trabalho desenvolvido pela E.L.T. fica evidente nessa montagem, em que atores mostram dominar corpo e voz, criando coletivamente, e pensando seu ofício à luz da crítica social. E é justamente esta crítica o ponto mais forte de Nekropolis. Consegue desvelar o funcionamento da realidade social, especificamente, sua lógica espetacular.
Para além de expor a polêmica de que, se o crime de violar e expor cadáveres em praça pública justificaria a atitude de abandono do Estado para com a população mais carente, o grupo Estirpe se utiliza da “fome” pelo espetacular, que a mídia tem, para transformar a exposição dos corpos em decomposição num evento. E assim, poder chamar a atenção das autoridades e da população para a sua própria negligência. Nekropolis oferece um amargo dilema: se o alimento da lógica espetacular é a necessidade da visibilidade, então, para que algum assunto relevante da vida social se torne alvo de discussão, e possível solução, será necessário alimentar a lógica espetacular com seu próprio veneno? E desse modo, fazer com que ela regurgite menos ilusão (espetáculo) e um pouco mais de realidade?
E, se assim for, como não deixar que esses próprios procedimentos se tornem banais? Pois, se a lógica espetacular funciona como uma “droga”, que seda a sensibilidade e faz com que sejam necessárias doses cada vez maiores de choque para poder repercutir, qual será o limite desses eventos extraordinários que sensibilizarão a sociedade para um debate?
Se Nekropolis ousou criar a trama para tratar de um tema relevante, e ao mesmo tempo delicado, pois a denuncia da injustiça social facilmente pode cair num tom agressivo e planfetário, sobra a vontade de avistar maior experimentação na linguagem. Embora haja coerência, tanto na interpretação, como nas coreografias e iluminação, a encenação buscou enfatizar restritamente o caráter austero do tema: com olhares intensos e diretos para os olhos da platéia; gestuais enérgicos e precisos; e iluminação direta, marcadamente frontal nos atores, como se fossem holofotes. Um dos momentos em que o registro sisudo poderia ser dispensado é quando aparecem alguns brinquedos no palco e bonecas sobre as cadeiras, em uma tentativa de simbolizar crianças mortas, mas que serviram mais à ilustração do que a significação. Os objetos apareceram no palco como brinquedos velhos, e não conseguiram estabelecer um diálogo com a vida das crianças que seriam suas donas.
O vigor de Nekropolis vem de sua capacidade de provocar o pensamento em várias direções. O próprio nome traz em si a idéia contraditória de combinar o termo “polis”, que se refere a cidade, que por sua vez seria formada por cidadãos, com o termo “nekro”, que alude a morte. Seria uma cidade formada por cidadãos sem voz, isto é, mortos? Literalmente ou metaforicamente mortos? Fica mais uma questão que Nekropolis consegue tocar. Inclusive na reflexão sobre quais premissas se partir para se fazer uma crítica social.
CRÍTICA SOBRE O NEKROPOLIS - ROGÉRIO GRUARAPIRAN
por Rogério Guarapiran
Necrópole é a antiga cidade dos mortos, campos de sepulturas que fundaram os grandes centros de civilização da antiguidade. O afastamento histórico do convívio mais orgânico com nossos mortos enfraqueceu a consciência de memória cultural remota e nossa capacidade de resistir prontamente ao julgo arbitrário e autoritário de formações cristalizadas.
O eixo central da criação colaborativa entre aprendizes e mestres da F10 da ELT com a peça “Nekrópolis” toma como centro das discussões um possível “ato extremado”, de intervenção política, como busca estética de contestação aos poderes estabelecidos. Trabalho musical de ficção crítica que coloca em processo a reflexão sobre as contradições sócio-políticas da história do Brasil recente e pratica a exumação de algumas mazelas de nossos vínculos imediatos de solidariedade e justiça social.
No início há uma dificuldade de compreender qual língua está sendo falada, não se entende a lógica do discurso e algumas palavras se destacam cruamente. Essa desorientação é um gesto - no primeiro momento incompreensível - para estabelecer o jogo de códigos e atitudes de um grupo terrorista denominado “estirpe”, que dá seu manifesto propositadamente confuso. No segundo momento inicia-se um julgamento - novo gesto que agora funda o fio da narrativa - que se desenrolará por toda a peça, entrecortado por músicas e flashs de cenas que contextualizam o processo. Nessa dinâmica o público é colocado como júri , integra a relação e é constantemente intimidado e solicitado a refletir meio ao embate ideológico dirigido pelos advogados de acusação e defesa. As músicas têm função de interrupções do fluxo dramático: comentam, antecipam, contradizem e pontuam momentos críticos; são encenadas com uma coreografia que tenta formalizar essa multifunção. A descontinuidade da narrativa exige uma versatilidade na configuração espacial, e para tanto utiliza-se palco e platéia com recursos econômicos de cenário: quase tudo são cadeiras que compõe o espaço. Os blackouts também contribuem para os cortes e mudanças de planos.
A montagem compreende várias camadas dramatúrgicas: o texto, enredo (destino do grupo terrorista dentro do julgamento), música, coreografia, etc; revelam conflitos latentes de correspondências entre as atitudes e intenções de cada elemento. A esquemática dominante da instauração do julgamento traz uma série de limitações formais em contradição com o primeiro gesto de desatinar a linguagem, porque o tribunal comporta-se num jogo antagônico e elementar de juiz, júri e opinião pública que aparecem de forma idealizadas. A atriz-juiz se dirige ao público-júri numa mistura de inquérito, averiguação e argüição, em uma tentativa de síntese investigativa que sufoca as tentativas mais intempestivas de construções na fala. As propostas de embate ideológico direto entre pares antagônicos dos advogados, representantes do poder legal e os terroristas abrem um campo muito fecundo para o debate de idéias, embora não consiga avançar para uma discussão mais aprofundada.
A direção musical atinge o adensamento de uma expressão de contestação que as letras compostas pelos atores reclamam, conseguindo uníssono muito claro das vozes em coro. Porém, essa harmonização e as melodias encontram um limite contraditório desfavorável em relação à linguagem truncada e desarticulada que pretendia atender aos terroristas. Os motivos melódicos, facilmente assimiláveis em termos de encadeamento da idéia musical, não correspondem à tentativa de desarticular a lógica do discurso que inicialmente foi sugerido. A coreografia, ao tentar desarticular os gestos, provoca uma sensação de caos organizado, e assim é mais coerente com a intenção estética. Mas há momentos em que não é difícil reconhecer algumas movimentações mal acomodadas e o abarrotamento de expressões para compensar um encaixe forçado das músicas com os cortes da narrativa central do tribunal.
Atuação é o foco de um trabalho de formação de atores de uma escola e na ELT a integração do ator em todas as etapas e áreas da criação teatral ressalta uma atitude muito consciente sobre temas que tendem a deslocar a atenção mais para fora do que para dentro do palco. Em “Nekrópolis” a autonomia está em relação oportuna e conflituosa com a forma de trabalho coletivo que resultou em fundar a autonomia de elementos cênicos que se manifestam estanques e amarrados por um truque de força que é o tribunal instaurado.
CRÍTICA SOBRE O NEKROPOLIS- ELAINE FRERE
Por Elaine Frere
A história da Escola Livre de Teatro é de montagens com temas densos, fato que, talvez, esteja ligado ao histórico dos idealizadores da escola: profissionais atuantes, competentes e habituados às lutas políticas da classe artística.
Já a Cidade de Santo André é um lugar com vistas para a cultura, intelectualizada e com seus excêntricos artistas a transitarem por toda parte em seus diferentes tipos e personalidades.
Com tanto “engajamento e liberdade”, pois que o nome já anuncia: “Escola Livre”, não é raro que as montagens tragam questões do coletivo para a cena, que façam criticas sociais e que optem por chocar a platéia.
Nekrópolis leva ao palco acontecimentos monstruosos e cotidianos, velhos conhecidos de todos nós, desastres da personalidade humana. Na trama, uma suposta facção criminosa chama a atenção para os crimes sociais, cometendo outros, tão ou mais chocantes. Logo, todo o teatro se transforma num tribunal, do qual o público faz parte, obrigatoriamente, e passa a participar de um julgamento que deve considerar, se o grupo agiu movido politicamente ou se foram crimes comuns. Neste âmbito muitas questões e reflexões sócio culturais são abordadas, como, por exemplo, a violência dos jogos eletrônicos, oferecidos aos filhos por seus próprios pais que, contraditoriamente, se perguntam por que seus filhos teriam se tornado tão violentos.
Diante do labirinto que Nekrópolis apresenta, bem se coloca a insistente pergunta de Gilberto Gil na canção Domingo no Parque, que narra um crime passional cuja condenação é certa:
- E agora, José?
- E agora, José?
- E agora, José?
Se a condenação é certa, um fato consumado, de que vale falar dela?
A citação também serve de paródia às palavras quebradas e repetidas do texto (possível ensaio do absurdo que se perde rapidamente), aos black outs freqüentes, ao movimento corporal repetitivo da dança contemporânea em cena, ou mesmo a sensação de “dèjá vú” do tema, que está na TV, nos jornais, na rádio, nas ruas e no Teatro.
Parecendo querer reafirmar o tom sombrio da trama, como se houvesse essa necessidade, os figurinos são na cor cinza, o palco é neutro, e a luz é, quase sempre, branca. Neste contexto, a cena da mulher que ao ser baleada na cabeça sofre delírios para, então, morrer, trabalhada como um rito de passagem, é quase um oásis poético e imagético, em meio ao tom cinzento da peça. Um oásis que se esvazia, no esforço final de uma morte naturalista em cena.
Fica a certeza de que há, por traz desses aprendizes, uma preocupação da escola, em formar profissionais pensantes, conscientes e preocupados com a função social da Arte, embora a obra, ora analisada, pareça um pouco ultrapassada quanto ao que se propõe a denunciar, posto que nenhuma novidade se apresenta, nem quanto ao tema, nem quanto a forma. Mas é certo que há, no espaço da Escola Livre, um prenúncio e o exercício das várias técnicas e recursos necessários ao “bom fazer teatral”.
.
quarta-feira, 20 de maio de 2009
AMOR SEM MEDIDAS
Eu pude assistir o desenlace do encontro. Bonito. Recarreguei meu bilhete pensei nas diferenças que se encontram quando o amor acontece. Invejei as diferenças e me senti comum.
sexta-feira, 20 de março de 2009
terça-feira, 10 de março de 2009
NEKROPOLIS

GALERA TÔ EM CARTAZ, ESTOU ESPERANDO VCS!!!
BJOKITAS SARADINHAS
MC²
Acessem e vejam a matéria
http://cultura.dgabc.com.br/
Abaixo segue o link do mapa pra chegar<http://maps.google.com.br/
"Quando vieste a esta terra
Estendeste tua mao
Conscientemente aceitaste
Exibir a tua arte
Pois o que pretendes
É o que tu podes
E o que quer seja
Uma vez plantado, visceja
E teu sol de diamante
Nesse instante Brilhara
Carregando teu encanto
O qual admiro tanto
E no fogo do teu coracao
Deposita esperenca
Deposita bem no fundo
Pois antes que tu percebas
Estaremos caminhando juntos
E teu sol de diamante
Nesse instante brilhara
Levando teu encanto
O qual eu gosto tanto."
Joao Luciano
domingo, 22 de fevereiro de 2009
EM BREVE
"Quem for idêntico a si próprio, este pode ser colocado no caixão, este já não existe mais,não está mais
Nekropolis é uma peça que retoma o tema da ação política no contexto altamente complexo do Brasil contemporâneo. Em sua narrativa, um grupo de indivíduos se congrega numa organização auto-denominada ESTIRPE; excluídos, vivendo à margem (como muitos brasileiros), dedicam-se a desenterrar cadáveres - e com isso, trazer à tona os crimes impunes cometidos por um Estado negligente e por uma sociedade permissiva.
Na montagem, o texto dialoga com uma dramaturgia musical que confronta, enfatiza, nega, questiona, sonha, cantando como num contraponto que procura frestas entre os espaços da palavra.
Gustavo Kurlat e Roberto Alvim
"Desumanizados e improdutivos, inúteis sem pátria em sua própria pátria,
um indivíduo que não tem mais nada a perder responde com o que Jean-Paul Sartre chamou "la ragge folle": a raiva enlouquecida.
São milhões – milhões – de seres sem voz, criaturas sub-humanas invisíveis sobrevivendo nas periferias dos grandes centros urbanos, procriando mais e mais, alastrando sua herança maldita. Como uma peste. Tão excluídos que falam outra língua, desenvolvida ao longo de séculos de analfabetismo funcional; divorciados até da possibilidade de diálogo conosco. Nós os matamos em vida; eles estão começando a descobrir como é viver na morte.
Se fecharmos os olhos e escutarmos com atenção, é possível ouvi-los se aproximando. Cada vez mais perto, muitos.
Com a voracidade e o potencial para destruição de um bando de mortos-vivos de filme B.
Nossa civilização
é sua necrópole".
Roberto Alvim
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
sábado, 31 de janeiro de 2009
Calcinhas brancas encardem rápido, tornam-se as mais poupadas tanto pela aparência que vão adquirindo quanto pela necessidade de tê-las sempre para algum momento surpresa. Pele também encarde. Alguns dias atrás, esturriquei as pernocas na praia depois de muito tempo de mofo no piche urbanóide. Dois dias de febre vermelho intenso sem encostar, mais quatro de pura exuberância dourada apenas nas pernocas, aliás, um corpitcho google maps várias cores rendendo desfiles e olhadas indiscretas. Quase uma semana após minha tentativa garota de praia, a coceira! Uma noite fritando e coçando. De pernocas saradas bronzeadas à descascadas e cheias de hematomas de unhas grandes que se fortaleceram e cresceram depois do exercício frenético de coçassão. O desconhecido poderia até julgar ser uma suja pulguenta que encardia. Agora ontem ouço a frase mais dramática dos últimos tempos: "Estou me sentindo encardida". Ser encardida, estar encardida, será que haverá nesse estado algum pacto com o encardido? Putz, me chocou! Um nível de depressão master deve ser próximo dessa sensação de estar encardida assim como:
Encardia a pele de vaca no curtume de algum lugar passivo de brisa e frescor da chuva.
Depois daquela rua atrás do viaduto, moribundos encardidos ciscavam mimetizando os pombos de uma praça vizinha.
Encardia as noites com seu bafo pestilento, alvorançando os arredores.
A alma encardida lameando os pensamentos ciumentos de acordes inúteis.
Acabou encardi. MC²
Que se encardiu; que adquiriu cor acinzentada ou amarelada por haver sido mal lavado, ou pela velhice:
roupa encardida;
papel encardido.
2.P. ext. Diz-se da pele que, por doença, velhice ou falta de asseio, perdeu o brilho, o aspecto saudável.
3.Sujo, imundo:
casa encardida.
4.Bras. Carregado, ameaçador:
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Qual o tamanho da sua fome?
Qual o seu peso encefálico?
Quantas pipocas já defecou hoje?
Quantos arames se constrói uma pilastra?
Você sabe sobre as mudanças gramaticais na língua portuguesa?
Você tolera puxas sacos?
É aspirante, orgânico ou enlatado?
Um prato esmaltado branco descascado fundo com arroz pontas agulha, angu caroço de pêssego e farinha compacta filantropia.
Qual o valor do seu trabalho?
Quantos filhos tem?
Joga na Megasena ou arrisca o Jogo do Bicho?
Vai pra Guarapari ou Praia Grande nas férias?
É hipertenso ou diabético?
Pra qual time torce?
Mãos servindo risoto à carbornara quentinho de mijo de um lixo de poste plasticuloíde empoeirado na esquina da Aurora.
É existêncialista ou materialista?
MC²
domingo, 4 de janeiro de 2009
Aos que vão nascer...
É verdade, vivo em tempo de trevas!É insensata toda a palavra ingénua. Uma testa lisa
Revela insensibilidade. Os que riem
Riem porque ainda não receberam
A terrível notícia.
Que tempos são estes, em que
Uma conversa sobre árvores é quase um crime
Porque traz em si um silêncio sobre tanta monstruosidade?
Aquele ali, tranquilo a atravessar a rua,
Não estará já disponível para os amigos
Em apuros?
É verdade: ainda ganho o meu sustento.
Mas acreditem: é puro acaso. Nada
Do que eu faço me dá o direito de comer bem.
Por acaso fui poupado (Quando a sorte me faltar, estou perdido)
Dizem-me: Come e bebe! Agradece por teres o que tens!
Mas como posso eu comer e beber quando roubo ao faminto o que como e
O meu copo de água falta a quem morre de sede? E apesar disso eu como e bebo.
(...)
É verdade, vivo em tempo de trevas!
Cheguei às cidades nos tempos da desordem. Quando aí grassava a fome
Vim viver com os homens nos tempos da revolta. E com eles me revoltei.
E assim passou o tempo
Que na terra me foi dado.
(...)
No meu tempo as ruas iam dar ao pântano.
A língua traiu-me ao carniceiro.
Pouco podia fazer.
Mas os senhores do mundo
Sem mim estavam mais seguros, esperava eu.
E assim passou o tempo
Que na terra me foi dado.
As forças eram poucas. A meta estava muito longe
Claramente visível, mas nem por isso ao meu alcance.
E assim passou o tempo
Que na terra me foi dado.
Vós, que surgireis do dilúvio
Em que nós nos afundámos
Quando falardes das nossas fraquezas
Lembrai-vos
Também do tempo de trevas
A que escapastes.
Pois nós (...)
Atravessámos as lutas de classe, desesperados
Ao ver só injustiça e não revolta.
E afinal sabemos:
Também o ódio contra a baixeza
Desfigura as feições.
Também a cólera contra a injustiça
Torna a voz rouca. Ah, nós
Que queríamos desbravar o terreno para a amabilidade
Não soubemos afinal ser amáveis.
Mas vós, quando chegar a hora
De o homem ajudar o homem
Lembrai-vos de nós
Com indulgência.
Bertolt Brecht
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| José |
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| O medo | |
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