quarta-feira, 13 de maio de 2020

Minha Dramaturga


Isso foi escrito em março de 200

Mana ,
Eu pensei muito se escreveria para você ... de repente poderia parecer que eu sou um espécie de puxa saco ou até não sei o quê ... o fato é que foda-se o que as pessoas pensam não é mesmo? Ficar levantando sua bola parece pouco pelo nível de mulher diva power que você é. Confesso que você é a dramaturga que mais tenho proximidade, apesar de ser um ótimo exercício pesquisar sobre outras. Mas antes mesmo de tecer elogios e dizer que você é uma grande inspiração e guardiã eu tenho que me desculpar por várias coisas. Uma delas é o fato de não ter tido competência para apresentar o texto da Piscina com a investigação que ele demandava. Quando nos conhecemos foi um suporte gigante para meu momento de renascimento. Você chegou naquele café já como a entidade que é. Me acolheu com os olhos mais atentos, escutou meu melodrama sem julgamentos, gargalhou no seu Exu me trazendo a esperança perdida, os cacos foram colados com super bonder no mesmo dia e comecei a perceber nocvas formas. Algumas horas depois você me envia o texto cheio de bolinhas no teto, sapos, mangueiras, inundações, cartões de visita, salto alto sem salto. Ahhh o  escafandrista dourado... Era síntese, mas era partida também. A mostra começou na Cia. Do Pássaro e  as palavras emboladas na boca eram como oração, começavam estranhas e lentas e eu já nem sei pra onde eu ia. Confesso que era difícil submergir daquele mergulho de fato, você me visitou em sentidos em poucos flashes, enquanto isso minha vida estava 36 degraus abaixo literalmente, naquele apartamento as estruturas eram frágeis demais para avançar sem recuar, mesmo nômades ou viciados era preciso dar conta da pedra no caminho. E o PSCI in À ficou suspensa até hoje. Ás vezes em nossos encontros tenho vergonha de falar do meu fracasso naquele momento, assim nunca mais conversamos sobre o trabalho. No entanto, tantas coisas aconteceram, você explodiu eu me recolhi como era preciso. E quando retornei  à São Paulo encontrei a dramaturga referência, super agendada, imersa no engajamento das lutas. Em um ano e meio, o alcance da Dione era meteórico. Foi um orgulho tão grande! Apesar da vergonha ainda escondida, consegui driblar minha covardia porque já era outros tempos. Tempos que passaram muito rápido pra você eu imagino. Alguns encontros marcantes depois, assim como o dia que você conheceu o Mia Couto e eu conheci a  Dione adolescente com os olhos brilhantes e o coração na boca. Foi o dia que fomos cuidadas pela Didi. Depois disso, o encontro atravessando a Brigadeiro Luis Antônio.
   Dione vou publicar um livro e você vai escrever o prefácio.
Ei-lo ai e eu aqui nessa nave mãe, a Escola Livre que tanto me educou durante 4 anos. Me mostrou que mestres e aprendizes são diferentes de alunos e professores, me ensinou formas de resistir, me ensinou o valor da criação coletiva. Aqui foram os anos dourados. Quem sabe esse retorno será anos dia amantes ?
E pra que tô nessa nostalgia toda?
Porque eu tô tentando entender a dramaturgia. Pessoas já são dramaturgias potentes e quando olho pra sua trajetória eu sou capaz de aprender mais pela presença, porque vejo além da obra. Eu realmente,  não sei onde separa essas coisas.
Pode soar algo tão egoísta orbitar no próprio umbigo. Mas é de onde costumo colocar minha luneta para enxergar o mundo. E nem sempre esse canto escuro e confortável é o melhor ângulo, você sabe ... Tô tentando me despregar dessa casca e sinto que nessa jornada você é Shiva apontando vários caminhos. Reconheço sua escrita nos poros e isso me alimenta ainda mais.
Essa fricção de corpos... acho que o caminho é por ai. (suspiro)
Essa carta não termina aqui. Só vou botar um ponto sem final, por enquanto. Tô na pausa sem drama mas em ação.
Fiquei pensando na Piscina sem água.


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